quarta-feira, 4 de outubro de 2006

SOUTH MARCA: 10 ANOS DE HUMOR


Kevin D. Thompson
em West Palm Beach
Quando Matt Stone e Trey Parker criaram "South Park", não se importavam com o que as pessoas pensassem de sua comédia animada vulgar. "Éramos dois caras que realmente não dávamos a mínima para nossas carreiras", disse Parker.
"Pensamos em ficar em Los Angeles um ano, talvez. Acreditávamos que ganharíamos algum dinheiro e então iríamos fazer qualquer outra coisa.
Sempre consideramos isto um tempo intermediário."

As criancinhas desbocadas que vivem no Colorado ainda provocam risos, 10 anos depois

Bem, dez anos depois, Stone e Parker continuam trabalhando em - e ganhando muito dinheiro com - "South Park", a série de desenhos animados loucamente engraçados e cruamente desenhados da Comedy Central, sobre quatro crianças desbocadas que vivem em uma cidade histericamente retorcida do Colorado.
"South Park", que comemora esta noite sua décima temporada com o primeiro de sete novos episódios, é conhecido por seu humor vale-tudo, que não poupa ninguém e nenhum assunto.
Ao longo dos anos, o programa perseguiu todo mundo, de Jesus (ele foi visto lutando com o demônio) a Tom Cruise (escondido num armário) ao profeta Maomé (apareceu como um super-herói).
Por ter atacado tantas vacas sagradas, Stone e Parker se confessam surpresos de o programa ganhador do Emmy ter durado tanto. "Nunca pensamos que passasse dos seis primeiros", diz Stone.
Eles também não tinham certeza de se o programa superaria a enorme polêmica que envolveu "South Park" quando Stone e Parker quiseram mostrar Maomé em outro episódio. Mas a Comedy Central não permitiu.
Na época, muçulmanos do mundo inteiro estavam protestando contra as representações insultuosas de Maomé publicadas num jornal da Dinamarca.
Naturalmente, Stone e Parker não ficaram contentes com a censura da rede e ameaçaram parar de produzir novos episódios de "South Park".
"Foi além de criativamente decepcionante", disse Stone. "Não sei se teríamos parado totalmente de trabalhar em 'South Park' ... mas era duro trabalhar para pessoas que você pensa que talvez estejam mantendo um de seus episódios como refém."
Parker acrescenta: "Isto é 'South Park', e nós atacamos absolutamente todo mundo de maneiras realmente terríveis. Se os católicos não querem que ataquemos mais Jesus, deveriam simplesmente ameaçar [a Comedy Central] com violência e conseguirão".
O episódio foi ao ar, mas quando se deveria ver Maomé o programa mostrou uma tela preta com os dizeres: "A Comedy Central se recusou a transmitir uma imagem de Maomé em sua rede".
Meses depois, a Comedy Central agora admite que tomou a decisão errada. "Nós reagimos exageradamente? Com certeza", diz Doug Herzog, presidente da empresa. "Acho que a história provavelmente o mostrará. Mas estamos dispostos a conviver com isso."
Talvez muitos fãs de Tom Cruise não quisessem ver Stone e Parker vivos depois que episódios questionaram abertamente a orientação sexual de Cruise e zombaram de sua religião (a cientologia).
Colocar no ar o episódio da cientologia não foi um problema, diz Stone. "Na verdade ficamos muito surpresos", ele diz. "Evitamos fazer isso por muito tempo, por causa da reputação da cientologia de levar as pessoas aos tribunais. Quando apresentamos a idéia para a Comedy Central, os advogados disseram: 'Sim, tudo bem'. Então, colocá-lo no ar não foi realmente um grande problema. Foi depois que ele foi ao ar que a m... atingiu o ventilador, por assim dizer."
Stone, é claro, refere-se à decisão inicial da Comedy Central de não repetir os episódios porque a Viacom, que é proprietária da Comedy Central e da Paramount Studios, não queria que a publicidade negativa prejudicasse as bilheterias do novo filme de Cruise - "Missão Impossível 3".
A Comedy Central acabou mudando de idéia e concordou em retransmitir o episódio, e ele foi indicado para um Emmy.
Quanto aos cientologistas, Stone diz que não ouviu um pio deles. "A cientologia tem a reputação de intimidar pessoas e atirar animais mortos por cima da sua cerca, colocar bilhetes no seu carro e jogar tijolos nas suas janelas, mas acho que é tudo besteira", disse Stone. "Acho que a imprensa criou esse monstro. Acho que a cientologia tem essa fama porque impede que qualquer pessoa faça alguma coisa sobre isso. Desde que fizemos o episódio, não tivemos qualquer contato deles. Mas tenho certeza de que não estão contentes conosco."
Stone e Parker admitem que se cansaram de falar sobre o mega-astro Cruise. "Fomos à Inglaterra e tínhamos uma posição política e filosófica muito forte sobre a polêmica da charge de Maomé e ninguém quis falar sobre isso", disse Stone. "Todo mundo só queria falar sobre Tom Cruise. Tenho a sensação de que vão nos perguntar sobre Tom Cruise pelos próximos dois anos. Você começa a sentir aquele fedor de Tom Cruise em você."
Cruise não foi a única celebridade cientologista alvo da zombaria de Stone e Parker. Isaac Hayes, que dublava o personagem Chef, abandonou o trabalho depois que soube que um episódio ia caçoar da cientologia. (Hayes também pertence à seita.) "Na verdade ele ficou muito aborrecido", lembra Stone. "Ele ama a cientologia e realmente ama 'South Park', e as duas coisas não combinam."
Pouco depois os criadores receberam uma carta do advogado de Hayes dizendo que ele deixaria o programa. "Sabíamos que isso poderia acontecer quando fizemos o episódio", reconhece Parker. "Mas não queríamos ser hipócritas. Nós sempre dissemos: 'Ou caçoamos de tudo ou de nada. Para ser sincero, Chef não tem uma grande participação no programa há cinco anos, por isso não foi um golpe devastador.
"Mas então saiu um comunicado de imprensa dizendo que 'Matt e Trey são preconceituosos'. Foi muito louco, porque nós nos dávamos muito bem. E foi então que nós pensamos: 'Puxa, você realmente achava o programa bacana até que fizemos sua religião, e agora somos preconceituosos?' Então decidimos: 'Está bem, vamos lá'."
Ao contrário de outros desenhos animados do horário nobre, como "The Simpsons", "Family Guy" e "American Dad", "South Park" consegue ser mais antenado e reagir rapidamente aos fatos atuais porque o período de produção é de apenas seis dias. Além disso, Parker e Stone fazem praticamente tudo.
"Fazemos todas as vozes, toda a direção e os textos de cada episódio", diz Parker. "Então não precisamos dizer 'Ah, vamos mudar esta frase. Chame o redator e depois traga os atores e vamos gravar'. Podemos fazer tudo isso em dez minutos."
Alguém poderia argumentar que com dez anos de exibição "South Park" entrou na corrente dominante. Afinal, existem jogos sem fio "South Park", fantasias de Halloween, brinquedos de pelúcia e concursos de loto.
Stone e Parker têm medo de perder sua modernidade? "É difícil ser o cara mais velho do clube, e você se preocupa com isso", diz Stone. Parker acrescenta: "Não queremos perder nossa modernidade, mas também queremos envelhecer graciosamente. Acho que estamos perdendo nosso pique, mas esperamos estar ganhando alguma outra coisa".
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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