sábado, 9 de dezembro de 2006

Apocalypto, de Mel Gibson, estréia


ROCÍO AYUSO
da Efe, em Los Angeles

O calvário de Mel Gibson após seus comentários anti-semitas deu lugar neste sábado a uma possível redenção, com a estréia nos Estados Unidos de "Apocalypto", um filme que segundo a crítica pode lhe devolver a glória do Oscar.

A revista "Variety" é clara: "'Apocalypto' é um filme admirável". "Uma viagem a um lugar no qual ninguém esteve antes", acrescenta o crítico Todd McCarthy, em relação ao filme de mais de duas horas sobre o final da civilização maia.

Dirigido, escrito, produzido e financiado por Gibson --e protagonizado por um elenco formado em sua maioria por latinos desconhecidos (muitos dos quais sequer eram atores)--, o filme também recebeu elogios da revista "Rolling Stone". "Falem o que quiser sobre Gibson, mas é um cineasta até a medula", resume o crítico Peter Travers, após ver o filme.

Os elogios chegam a tal ponto que o "New York Times" pergunta se os ataques contra Gibson por parte de uma indústria ofendida com os insultos que este proferiu bêbado darão lugar agora à sua redenção, diante de suas últimas conquistas cinematográficas. "Serão os 5.830 membros com direito a voto da Academia capazes de deixar de lado um filme que pode ser considerado pela crítica um dos melhores do ano?" pergunta Sharon Waxman aos leitores.

A especialista em cinema pode encontrar sua resposta nas outras críticas recebidas pelo filme, falado em sua totalidade em maia, idioma que poucos conhecem.

Violência

A violência também foi tema das críticas. "Gibson fez um filme que pode ser recomendado com segurança para os espectadores que tiveram a tolerância que um comandante de campo de concentração tem para a selvageria repugnante", comenta Kenneth Turan nas páginas de "Los Angeles Times".

Gibson afirmou nesta semana, em entrevista à revista "Entertainment Weekly", que não quer ser visto como um "monstro". "A violência é parte recorrente de nossa sociedade. Mas o filme não é tão violento como esses com serras elétricas", afirma o ator, que ganhou o Oscar de melhor diretor por "Coração Valente". Na opinião dele, tanto "Coração Valente" como "A Paixão de Cristo" --que arrecadou US$ 370 milhões nos Estados Unidos-- são mais violentos que "Apocalypto".

Turan, assim como outros críticos, não discutem se o último trabalho do diretor é mais ou menos violento que os anteriores. "A questão é que é um sádico cinematográfico", tenta explicar Kirk Honeycutt em "The Hollywood Reporter".

Nenhum deles nega o talento cinematográfico por trás do filme, além da controvérsia pessoal ou da violência. "Ele sabe como fazer um filme que faz você palpitar", acrescenta Honeycutt, enquanto o "Los Angeles Times" afirma que há "muitas coisas boas que podem ser ditas" sobre "Apocalypto".

Mas --como diz Glenn Whipp no "Daily News"-- as opções são rir de tanta violência ou assistir com os olhos fechados. "Testículos servidos como aperitivo são a idéia de Gibson de um momento de humor", explica, sobre um menu visual que também inclui cabeças cortadas (muitas) com seus respectivos corpos, corações arrancados "da raiz" ou lacerações e crânios partidos que jorram sangue.

O filme estréia em janeiro no Brasil.

P.S. Reportagem retirada da Folhaonline

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