segunda-feira, 25 de junho de 2007

DEVIR LANÇA SUPREMO


Abaixo, o ótimo prefácio da 1ª edição:

A Supremacia Moore

(ou "Como não existem personagens ruins, mas penas escritores ruins!")

As histórias contidas neste primeiro volume foram publicadas nas revistas Supreme #s 41 a 46, mas Supremo surgiu originalmente em Agosto de 1992, numa história "tapa-buraco" da revista Youngblood # 3, para depois ganhar uma série própria em Novembro do mesmo ano. Criado por Rob Liefeld, o personagem nunca foi um exemplo de originalidade e muito menos de qualidade, mas devemos nos lembrar que eram os primeiros anos da Image Comics, quando a fórmula da editora era a maior concentração por página de personagens enraivecidos e de anatomia duvidosa do que um bom roteiro.

Por causa disso, muita gente se refere às primeiras quarenta edições da série com uma palavra que remete a algo de odor nada agradável. No entanto, vamos tentar resumir de maneira rápida e indolor a fase que precedeu a entrada de Alan Moore no título. Tenho certeza de que você torcerá o nariz algumas vezes, mas, no final, irá se divertir com a certeza irrefutável de que não existem maus personagens, mas escritores ruins...

No mundo dos super-heróis, um personagem geralmente é criado com uma característica básica que o define e irá marcar suas histórias seguintes. Por exemplo: o Homem-Aranha começou como um herói adolescente que adquiriu seus poderes acidentalmente, mas, por causa de um egoísmo puramente imaturo, acabou deixando livre o bandido que mataria seu tio. Esse sentimento de culpa deixou claro em toda a sua carreira de herói que grandes poderes sempre vêm acompanhados de grandes responsabilidades. Você pegou a idéia, certo? Pois é... No caso do Supremo esse pequeno detalhe de personalidade nunca foi levado muito a sério... Roupa branca para inspirar pureza, capa vermelha pra contrastar no visual, cara de mal, dentes à mostra, punhos sempre cerrados e prontos pra porrada... Isso era o que definia o personagem. No primeiro número de sua estréia, ele retorna à Terra após 50 anos ausente, enfrentando uma nova geração de heróis e vilões. Às vezes, ele agia como uma espécie de herói radical religioso, quase um anjo da vingança, citando passagens bíblicas para justificar seus atos. Em outras, o sujeito se considerava um deus, e isso se agravou ainda mais depois que ele venceu o deus nórdico Thor e ficou com seu poderoso martelo Mjolnir.

Supremo só ganhou uma origem de verdade na mini-série de 3 partes The Legend of Supreme, publicada de Dezembro de 1994 a Fevereiro de 1995 e escrita por Keith Giffen e Robin Loren Fleming. Na história, um jornalista chamado Maxine Winslow investiga a origem do Supremo. Através da suas investigações, descobrimos que Ethan Crane baleou e matou dois homens porque ambos haviam estuprado uma garota de 15 anos. Em seguida, Crane foi alvejado por dois policiais, mas conseguiu sobreviver. No entanto, ele foi julgado e condenado à prisão perpétua. Na penitenciária, o governo ofereceu a ele a chance de participar de experimentos de aperfeiçoamento físico de seres humanos. Crane aceitou, mas, infelizmente, morreu como as outras seis cobaias antes dele. A única diferença foi que ele voltou à vida. Encontrando abrigo numa igreja, ele recebeu ajuda do Padre Beam, e começou a descobrir que era dotado de uma série novas habilidades e poderes. Assumindo o nome "Supremo", e ciente das notícias da guerra na Europa, ele decidiu fazer sua parte e atuou como uma poderosa força aliada na 2a Guerra Mundial. Quando o conflito chegou ao fim, Supremo, que havia cumprido o seu papel de bom samaritano, deixou a Terra.

Supremo passou décadas no espaço, combatendo inúmeras ameaças alienígenas, mas acabou retornando ao seu planeta natal em 1992, quando encontrou uma sociedade totalmente mudada e repleta de super-humanos geneticamente engendrados que podiam ser encontrados em supergrupos como Youngblood e Heavy Mettle (sim, a grafia é esta mesma, onde "mettle" quer dizer "vigor, ânimo, ímpeto, valor"). Acredite se quiser, mas Supremo tornou-se líder da segunda equipe por um tempo, mas deixou seu "cargo" logo após ter vencido o vilão Khrome.

Quando Supremo combateu Thor pela posse do Mjolnir, um personagem chamado Enigma trouxe um Supremo de uma linha de tempo alternativa e o deixou "guardado" no caso do herói ser derrotado. Bom... Como revelamos alguns parágrafos acima, o deus nórdico levou a pior, mas, mesmo assim, o Supremo alternativo não foi devolvido à sua dimensão. O Supremo original foi dado como morto durante um ataque de Lord Chapel, mas, na verdade, foi mandado para uma Terra alternativa... Hummm... Confuso, né? Mas não se preocupe. Vai piorar bastante...

Voltando... O Supremo original passou vários anos nessa Terra de outra dimensão, até que o Supremo alternativo (retirado dessa linha temporal por Enigma) retornou e (claro!) levou um cacete do original. Depois de algumas aventuras pouco relevantes, o Supremo original, o Supremo genérico, Probe (a filha do Supremo vinda do futuro) e Enigma lutam lado-a-lado para derrotar o deus nórdico Loki, que havia causado várias anomalias na realidade. Assim, em Supreme # 40, o Supremo original parte rumo à sua própria Terra, enquanto Probe decide ficar naquela dimensão alternativa.

Sem dúvida, um épico sem igual, mas... Bem... Você já deve saber exatamente qual a palavra que nos remete a algo de odor nada agradável, certo?

Quando Alan Moore foi convidado por Rob Liefeld para escrever a série, o autor inglês aceitou com uma condição: iria esquecer tudo o que havia sido feito com o personagem antes. Acordo fechado!

Não vou comentar nada sobre as histórias em si, pois você terá o prazer de lê-las nas páginas a seguir. No entanto, para os mais desavisados, a saga de Supremo escrita por Alan Moore é uma verdadeira homenagem ao gênero de super-heróis nos quadrinhos. Cada capítulo, além de nos mostrar mais sobre a "origem perdida" do Supremo, faz uso brilhante da meta-linguagem e conta um pouquinho da própria história dos quadrinhos. Muitos críticos e fãs ardorosos se referem a esta fase de Moore como as melhores histórias do Superman jamais publicadas. De certa maneira, Alan Moore ficou "marcado" por recontar histórias de personagens já estabelecidos na mídia de uma maneira mais sombria e adulta (vide Watchmen e BAtman: A Piada Mortal). O que o escritor fez aqui foi justamente o oposto. Ele buscou na mitologia das grandes histórias dos super-heróis das décadas de 30 a 80 os ingredientes para reconstruir um herói considerado medíocre e transformá-lo num personagem interessante. O resultado disso você verá neste e nos próximos volumes de Supremo.

Por enquanto, seja muito bem-vindo à Era de Ouro! Boa leitura!

- Leandro Luigi Del Manto
Editor

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