quarta-feira, 18 de julho de 2007

Editora Fósforo lança o ótimo 'Ficção de Polpa'


“O horror é o maior totem do século XX.” Alan Moore


(…) "o fantástico é, simplesmente, a indicação súbita que, à margem das leis aristotélicas e da nossa mente racional, existem mecanismos perfeitamente válidos, vigentes, que nosso cérebro lógico não capta, mas que em certos momentos irrompem e se fazem sentir." Julio Cortázar


Onde está a fantasia, o horror e a ficção científica na literatura brasileira? À primeira vista, pode parecer que não temos uma tradição literária nestes gêneros, mas isto não é totalmente verdade. Tentativas são feitas o tempo todo, desde o início do século XX, e sempre houve um público leitor disposto a ler ficção especulativa (um bom termo para englobar os três estilos). Será que falta na nossa História uma Idade Média que sustente uma literatura fantástica, mesmo com nosso folclore rico? Será que a falta de investimento em pesquisa científica nos acostumou a pensar a tecnologia de forma passiva, nunca ativa, e nos faz desacreditar uma produção nacional de ficção científica? Será que o horror cotidiano nos impede de aceitar o horror fictício como uma forma válida de escapismo? Os autores desta coletânea sinceramente esperam que não. Pois o Ficção de Polpa, caríssimo leitor, é um esforço coletivo cuja intenção é, justamente, promover e estimular a produção de uma literatura especulativa de primeira grandeza. Tendo como um bom mote a homenagem às revistas pulp, literatura "barata" do início do século XX que serviu de escola para autores como H.P. Lovecraft, Ray Bradbury, Isaac Asimov, Raymond Chandler, Elmore Leonard, entre uma infinidade de outros. O resultado? Cada um dos 16 autores desta coletânea de contos buscou suas próprias referências literárias, compondo um amplo painel de estilos e temas: serial killers, crimes hediondos, delírios domésticos, sonhos que se transformam em pesadelos e pesadelos que se fundem à realidade, partes do corpo que se rebelam contra seus donos, animais monstruosos e mutações genéticas, mortos-vivos e invasões alienígenas. Junto a isto a proposta de contos onde o horror acontece de maneira mais sutil, explorando a estranheza do cotidiano e temos uma grande diversidade de abordagens para o que pode ser definido como o fantástico levado ao extremo. Se isto tudo não fosse o bastante, esta primeira publicação que se pretende tornar uma coleção, ainda inova ao trazer uma faixa bônus: a tradução nova de um conto pulp clássico e o making-of da ilustração da capa. Nesta primeira edição, o destaque é o conto O Cão de Caça, de H.P. Lovecraft. E você se pergunta, leitor: porquê diabos este livro se chama Ficção de Polpa? Porque a ficção científica como nós a conhecemos, o horror moderno e (em menor grau) a literatura fantástica moderna devem muito à um tipo de publicação tão barata quanto desprezada: as revistas pulp, ou pulp fictions publicadas entre as décadas de 1920 e 1950, assim chamadas por serem impressas no papel mais barato possível, feito com a polpa da madeira e vendidas por meros dez centavos. Suas capas traziam quase sempre uma belíssima e apelativa (para os padrões da época) ilustração de uma mulher seminua em perigo, torturada ou capturada pelo sádico vilão, e à espera do herói que a resgatasse. Foram nas páginas dos pulps que H.P. Lovecraft praticamente inaugurou o estilo atual de se pensar a literatura de horror, assim como foram nas páginas das pulps que o editor de Amazing Stories, Hugo Gernsback, cunhou o termo science fiction e fundou o gênero do modo como o conhecemos. Graças à "literatura barata" dos pulps, escritores como Lovecraft, Issac Asimov, Arthur C. Clarke, Ray Bradbury, Raymond Chandler e Elmore Leonard, entre dezenas de outros, desenvolveram seus estilos. Como bem aponta Roberto de Sousa Causo em seu pioneiro livro Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil (Editora UFMG, 2003), não houve no nosso país um fenômeno pulp como nos EUA, mesmo que houvessem algumas tentativas pontuais de se investir neste tipo de literatura. Na época propícia para isto, éramos um país essencialmente agrário e nossa parca literatura especulativa, dominada por um pensamento eugenista (praticamente racista, como Monteiro Lobato em seu O Presidente Negro), preocupada demais em educar e menos em entreter o leitor, dominada em geral por um ranço didático. Disso, caro leitor, nós fugimos como o diabo foge da cruz. Não buscamos a pretensão de atribuir uma função à ficção. Nós buscamos, no mínimo, "explodir a mente" do leitor: quando o mundo se revela maior do que imaginávamos, quando nossos medos de tornam realidade, quando temos a sensação de sermos insignificantes na vastidão e nos mistérios do universo e ao mesmo tempo, sermos o centro dele. Nossos esforços, nossa pretensão e nossas expectativas são de tentar dar a você, leitor, estas sensações. E torcemos para que você goste.

Ficção de Polpa

Autores: Alessandro Garcia, Annie Muller, Antonio Xerxenesky, Fernando Mantelli, Guilherme Smee, Gustavo Faraon, Luciana Thomé, Marcelo Juchem, Rafael Bán Jacobsen, Rafael Kasper Rafael Spinelli, Roberta Larini, Rodrigo Rosp, Sérgio Napp, Sílvio Pilau, Samir Machado de Machado (org.)

Páginas: 132 - Preço: R$ 15,00

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