quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O LIMITE

Hitching-Hunter-S-Thompson-crouching-by-road

__ Não existe nenhuma forma genuína de explicá-lo [o limite] porque as únicas pessoas que sabem onde ele está são aquelas que o ultrapassam.

Hunter S. Thompson

O Ancião Diz.

O SINALEIRO

Charles Dickens

charles_dickens

“Olá! Você, aí embaixo!”
Quando ele ouviu uma voz chamando-o, estava à porta de sua cabine, com uma bandeira na mão, enrolada na sua vareta curta. Considerando-se a natureza da área, imaginar-se-ia que ele não pudesse duvidar de onde vinha a voz; mas em vez de olhar para cima, onde eu me postara no alto do patamar praticamente por sobre a sua cabeça, ele virou-se e olhou para a Linha abaixo. Havia algo de estranho na sua maneira de fazê-lo, mas eu não, absolutamente não, poderia dizer o quê. Mas sei que era estranho o bastante para atrair minha atenção, embora sua silhueta estivesse parcialmente oculta e ensombrecida na passagem de nível abaixo, e a minha, bem acima dele, tão imersa no brilho incandescente de um crepúsculo rubro que eu tivera de proteger meus olhos com a mão antes de o ver.
“Olá! Aí embaixo!”
Depois de olhar para a Linha abaixo, ele voltou-se novamente e, levantando os olhos, viu minha silhueta no alto.
“Existe um caminho pelo qual eu possa descer e falar com você?”
Olhou para mim sem responder e olhei para ele, sem pressioná-lo imediatamente com uma repetição de minha pergunta ociosa. Foi então que houve uma vaga vibração no chão e na atmosfera, rapidamente transformando-se em uma violenta pulsação e progressiva agitação que me fez recuar, como se ela tivesse força para arrastar-me para baixo. Quando uma nuvem de vapor do trem veloz havia passado por mim, olhei novamente o nível inferior e o vi enrolando novamente a bandeira que ele desfraldara à passagem do trem.
Repeti minha pergunta. Após uma pausa, durante a qual ele pareceu me olhar com uma atenção concentrada, acenou com sua bandeira enrolada em direção a um ponto em meu patamar, distante umas duas ou três centenas de jardas.
Respondi-lhe “Está bem!” e desci àquele ponto. Lá, à força de olhar atentamente ao meu redor, encontrei um caminho escavado e irregular descendo em ziguezague, que segui.
O entalho era extremamente profundo e anormalmente abrupto. Era feito em pedra úmida, que se tornava mais gotejante e molhada à medida que eu descia. Por isso, o percurso foi lento o bastante para me dar tempo de recordar um ar singular de relutância ou obrigação com o qual ele me apontara o caminho.
Após descer o ziguezague o suficiente para vê-lo novamente, vi que ele se postara entre os trilhos pelos quais o trem passara recentemente, como se estivesse esperando que eu aparecesse. Tinha a mão esquerda no queixo e o cotovelo esquerdo pousava na mão direita, cruzada sobre o peito. Sua postura era de tal expectativa e cautela que me detive por um instante, surpreso.
Retomei minha descida e, caminhando cautelosamente até o nível dos trilhos e aproximando-me dele, vi que era um homem moreno e aparência doentia, com uma barba escura e sobrancelhas um tanto cerradas. Seu posto ficava no lugar mais solitário e lúgubre que eu jamais vira. De ambos os lados, um gotejante muro de pedras irregularmente recortadas, que a tudo ocultava, exceto uma faixa de céu; o panorama numa direção apresentava apenas um prolongamento torto desse grande calabouço; na outra direção, mais proximamente, avistava-se uma luz vermelha sombria e a entrada ainda mais sombria de um túnel negro, em cuja arquitetura maciça havia apenas um ar terrivelmente opressivo e irrespirável. Esse lugar recebia tão pouca luz do sol que exalava um cheiro de terra insuportável; e atravessava-o um vento tão frio que fiquei gelado, como se houvesse me distanciado do mundo real.
Antes que ele se movesse, eu fiquei tão próximo que poderia tocá-lo. Sem tirar os olhos de mim nem mesmo então, ele recuou um passo e levantou a mão.
Esse posto era solitário (disse eu) e havia chamado minha atenção quando de lá de cima olhara para baixo. Raramente aparecia um visitante, eu supunha; mas essa seria uma raridade indesejável? Talvez em mim ele pudesse ver um homem que igualmente fora encerrado em limites estreitos durante toda a vida mas que, finalmente livre, fora recentemente despertado para essas grandes obras. Assim dirigi-me a ele; mas não estou certo de que foram essas as palavras usadas, pois, além de eu não ser bom em entabular uma conversa, havia algo no homem que me intimidava.
Ele lançou um olhar muito estranho para a luz vermelha perto da boca do túnel e perscrutou-a, como se algo estivesse faltando ali e depois olhou para mim.
“Aquela luz fazia parte de sua ocupação? Não é?”
Respondeu numa voz baixa: “Você sabe que sim”.
Um pensamento terrível me veio à mente enquanto examinava atentamente os olhos fixos e o rosto saturnino, que se tratava não de um homem, mas de um espectro. Desde então tenho me perguntado se seu espírito não estava contaminado.
Quanto a mim, recuei. Mas, ao fazê-lo, detectei em seus olhos algum medo latente de mim. Isso pôs a correr o pensamento terrível.
“Você olha para mim”, falei, forçando um sorriso, “como se me receasse.”
“Eu não tinha certeza”, respondeu ele, “se o vira antes.”
“Onde?”
Ele apontou para a luz vermelha para onde olhara.
“Lá?”, disse eu.
Com um olhar atento e cauteloso, ele respondeu (mas com voz inaudível) que sim.
“Meu bom amigo, o que eu estaria fazendo lá? Mas, de qualquer forma, eu nunca estive lá, pode estar certo disso.”
“Acho que posso”, repetiu ele. “Sim, acho que posso.”
Seu rosto se desanuviou, assim como o meu. Respondeu às minhas indagações com solicitude e palavras precisas. Ele tinha muito que fazer ali? Sim, diria que sim, tinha muitas coisas sob sua responsabilidade, mas o que se exigia dele eram pontualidade e atenção, não um trabalho real — manual. Para mudar aquele sinal, ajustar aquelas luzes e girar essa maçaneta de ferro de quando e quando era tudo que tinha a fazer. Com relação àquelas muitas horas longas e solitárias que me chamavam tanto a atenção, ele podia apenas dizer que a rotina de sua vida assim se acomodara e que a ela se habituara. Ele aprendera lá uma linguagem — se conhecê-la apenas pela visão e ter formado suas próprias idéias toscas de sua pronúncia pudesse ser chamado de aprendizado. Ele também trabalhava com frações e decimais e tentara um pouco de álgebra; mas tinha dificuldade, desde criança, com números. Era-lhe necessário, quando em serviço, permanecer sempre naquela corrente de ar úmido e não podia nunca subir para a luz do sol, por entre aqueles altos muros de pedra? Ora, isso dependia da hora e das circunstâncias. Sob certas circunstâncias, havia menos trabalho no Ramal do que nos outros, independente de horas diurnas ou noturnas. Quando o tempo estava bom, ele às vezes saía um pouco daquelas sombras inferiores; mas, como estava sempre sujeito a chamadas de sua campainha elétrica, e nessas ocasiões precisava ficar atento a ela com ansiedade redobrada, o alívio era menor do que eu poderia supor.
Ele me levou ao seu cubículo, onde havia uma lareira, uma escrivaninha para um livro oficial no qual ele devia registrar certas entradas, um aparelho telegráfico com seu dispositivo de discagem, mostrador e agulhas e o pequeno sino de que falara. Quando expressei minha certeza de que ele perdoaria minha observação quanto ao fato de que era um homem instruído e (sem ofensa, esperava eu) talvez acima daquele cargo, ele observou que era extremamente raro encontrarem-se exemplos de ligeira discordância desse tipo entre uma grande quantidade de pessoas; que ouvira casos assim nas oficinas, na polícia, até mesmo naquele último recurso desesperado, o exército; e que ele sabia ser assim, mais ou menos, em qualquer equipe de uma grande companhia de estradas-de-ferro. Fora, quando jovem (se me fosse possível crer, sentado naquela cabina; até mesmo a ele era difícil crer), um estudante de filosofia natural e freqüentara cursos; mas havia se comportado mal, perdido suas oportunidades, decaído, e nunca mais se recuperara. Não se queixava disso. Fizera sua cama e deitara-se nela. Era tarde demais para fazer outra.
Tudo isso — que eu resumi aqui — ele o disse de jeito calmo, com seus olhares sérios divididos entre mim e o fogo. Ele intercalava a palavra “Senhor” de tempos em tempos e especialmente quando se referia a sua juventude: como se me pedisse para compreender que ele não pretendia ser senão o que eu nele via. Diversas vezes ele foi interrompido pelo sininho e precisou ler mensagens e enviar respostas. Uma das vezes, teve de postar-se além da porta e agitar uma bandeira enquanto um trem passava e trocar algumas palavras com o foguista. Observei que, no desempenho de seus deveres, ele era notavelmente pontual e atento, interrompendo seu discurso numa sílaba e permanecendo em silêncio até terminar o que tinha a fazer.
Em suma, eu daria as melhores recomendações a respeito desse homem para esse emprego, salvo pela circunstância de que, enquanto falava comigo, interrompeu-se duas vezes, empalideceu, virou seu rosto para o sininho que não estava tocando, abriu a porta da cabina (que ficava fechada para impedir a umidade insalubre) e olhou para a luz vermelha próxima à boca do túnel. Em ambas as ocasiões voltou para o fogo com o ar inexplicável que eu observara, mas não fora capaz de definir, quando ainda estávamos muito distantes um do outro.
Eu disse, quando me levantei para despedir-me: “Você quase me fez pensar que encontrei um homem feliz”. (Mas devo confessar que o disse para animá-lo).
“Creio que era”, replicou ele, na voz baixa com que falara pela primeira vez, “mas estou perturbado, senhor, estou perturbado.”
Ele teria retirado as palavras, se pudesse. Mas dissera-as, contudo, e eu rapidamente agarrei a deixa.
“Com o quê? O que o perturba?”
“É muito difícil explicá-lo, senhor. É algo sobre o que é muito difícil falar. Se algum dia o senhor me fizer uma outra visita, tentarei contar-lhe.”
“Mas eu tenho realmente a intenção de fazer-lhe uma outra visita. Diga-me, quando poderei fazê-lo?”
“Saio de manhã cedo e volto novamente amanhã às dez da noite, senhor.”
“Virei às onze.”
Mostrou-se agradecido e foi até a porta comigo. “Acenderei minha luz branca, senhor”, disse ele, naquele seu tom de voz baixa que lhe era peculiar, “até o senhor encontrar seu caminho para cima. Quando chegar lá, não grite! E quando estiver no topo, não grite!”
Sua atitude parecia fazer o lugar me parecer mais frio, mas eu nada mais disse senão “Está bem”.
“E quando descer amanhã à noite, não grite! Permita-me fazer-lhe uma última pergunta. O que o fez gritar ‘Alô! Alô, aí embaixo’ esta noite?”
“Sabe-se lá”, disse eu. “Gritei algo assim...”
“Não assim, senhor. As palavras foram exatamente essas. Conheço-as bem.”
“Admito que foram essas as palavras. Eu as disse, sem dúvida, porque eu o vi embaixo.”
“Por nenhum outro motivo?”
“Por que outro? Que outro motivo poderia haver?”
“Não teve nenhuma sensação de que lhe eram comunicadas de algum modo sobrenatural?”
“Não.”
Ele me desejou boa noite e levantou sua lanterna. Andei pelo lado da linha de trilhos abaixo (com uma sensação muito desagradável de um trem vindo atrás de mim), até encontrar o lugar de subida. Era mais fácil subir do que descer, e eu voltei para meu hotel sem quaisquer incidentes.
II
Pontualmente, coloquei meu pé no primeiro entalhe do ziguezague na noite seguinte quando os relógios ao longe estavam batendo as onze horas. Ele estava a minha espera no fundo, com sua luz branca acesa. “Não gritei”, disse eu, quando nos aproximamos; “posso falar agora?”. “Claro que sim, senhor.” “Boa noite, então, e aqui está minha mão.” “Boa noite, senhor; aqui está a minha.” Com isso, caminhamos lado a lado até sua cabina, entramos, fechamos a porta e sentamo-nos ao lado do fogo.
“Decidi, senhor”, começou ele, inclinando-se para frente assim que nos sentamos e falando num tom pouco acima de um sussurro, “que não precisará perguntar duas vezes sobre o que me perturba. Tomei o senhor por outra pessoa ontem à noite. O que me perturba.”
“Esse engano?”
“Não. A outra pessoa.”
“Quem é ela?”
“Não sei.”
“Parecida comigo?”
“Não sei. Nunca vi o rosto. O braço esquerdo está na frente do rosto, e o braço direito está acenando. Acenando com violência. Assim.”
Segui seu gesto com meus olhos e era o de um braço a agitar-se com extrema comoção e veemência. “Pelo amor de Deus, saia do caminho!”
“Numa noite enluarada”, disse o homem, “eu estava sentado aqui quando ouvi uma voz gritar: Alô! Aí embaixo!' Fiz um movimento, olhei daquela porta e vi essa pessoa de pé, ao lado da luz vermelha perto do túnel, acenando exatamente como lhe mostrei agora. A voz parecia rouca de tanto gritar e gritava: ‘Cuidado! Cuidado!’. E depois novamente: ‘Alô! Aí embaixo! Cuidado!’. Peguei minha lanterna, acendi a luz vermelha e corri em direção à figura, dizendo: ‘O que há de errado? O que aconteceu? Onde?’. Eu estava perto da escuridão do túnel. Avancei para bem perto dele, pois estranhei o fato de manter a manga diante de seus olhos. Corri para ele e, quando estendi minha mão para puxar a manga, ele desapareceu”.
“Dentro do túnel?”, indaguei.
“Não. Corri para dentro do túnel, quinhentas jardas. Parei e levantei minha lanterna acima da cabeça e vi as figuras de uma certa distância e as gotas de umidade descendo pelas paredes e escorrendo pelo arco. Corri para fora novamente, mais rápido do que correra para dentro dele (pois tenho um pavor mortal do lugar) e olhei tudo em volta da luz vermelha com a minha própria luz vermelha e subi a escada de ferro até a galeria acima e desci novamente, correndo de volta para cá. Telegrafei para ambos os lados: ‘Houve um alerta. Alguma coisa errada?’ A resposta de ambos foi: ‘Tudo certo?’.”
Afastando o lento toque de um dedo gelado a subir pela minha espinha, expliquei-lhe que aquela imagem devia ser uma ilusão de óptica e que se sabia que essas imagens, originadas por doença dos nervos delicados que comandam as funções dos olhos, muitas vezes perturbavam os pacientes, alguns dos quais haviam reconhecido a natureza de sua ansiedade e até mesmo comprovado-a por experiências consigo mesmos. “Quanto ao grito imaginário”, expliquei, “ouça apenas por um momento o vento nesse vale artificial enquanto falamos com vozes tão baixas e como ele faz dos fios do telégrafo uma harpa extremamente sonora!”
Tudo isso estava muito certo, respondeu ele, depois que já estávamos sentados por bons minutos, e já deveria ter pensado no vento e nos fios, ele que tantas vezes passara longas noites de inverno ali, sozinho e em vigília. Mas rogou-me atentar para o fato de que ainda não terminara.
Pedi desculpas, e ele lentamente acrescentou estas palavras, tocando em meu braço:
“Seis horas após a Aparição, aconteceu o famoso acidente desta Linha e durante dez horas os mortos e feridos foram trazidos de dentro do túnel, sobre o ponto em que estivera a imagem”.
Um calafrio desagradável subiu-me pelo corpo, mas fiz o possível para ignorá-lo. Era inegável, repliquei, que se tratava de uma coincidência notável e na medida certa para impressioná-lo. Mas era inquestionável que coincidências notáveis ocorriam sempre e que elas devem ser levadas em conta ao lidar com assuntos desse tipo. Embora eu certamente devesse admitir, acrescentei (pois julgava prever que ele iria contra-argumentar) que homens de bom senso geralmente não incluem coincidências nas previsões dos acontecimentos cotidianos.
Ele novamente rogou-me que atentasse para o fato de que não terminara.
Novamente pedi desculpas por tê-lo interrompido.
“Isso”, disse ele, pondo a mão em meu braço de novo e olhando por sobre o ombro com olhos vazios, “aconteceu exatamente um ano atrás. Seis ou sete meses se passaram, e eu me recobrara da surpresa e do choque quando uma manhã, ao amanhecer, de pé naquela porta, olhei para a luz vermelha e vi o espectro novamente”. Ele parou, com um olhar fixo para mim.
“Ele gritou?”
“Não. Ficou em silêncio.”
“Ele acenou?”
“Não. Encostou-se ao poste da lanterna, com as duas mãos diante do rosto. Assim.”
Mais uma vez, segui seu gesto com os olhos. Era um gesto de luto. Já vi essa postura em figuras de pedra sobre túmulos.
“Você foi até ele?”
“Entrei e sentei-me, em parte para recobrar o domínio de meus pensa-mentos, em parte porque me sentia a ponto de desmaiar. Quando fui novamente até a porta, a luz do dia brilhava e o fantasma desaparecera.”
“Mas nada mais aconteceu? Foi tudo?”
Ele me tocou o braço com seu dedo indicador duas ou três vezes, acompanhando cada um desses gestos com uma inclinação da cabeça, aterrorizado.
“Naquele mesmo dia, quando um trem saiu do túnel, notei, numa janela do vagão para o meu lado, o que parecia uma confusão de mãos e de cabeças, e algo acenava. Eu o vi, a tempo de fazer um sinal para o foguista parar. Ele desligou e freou, mas o trem arrastou-se outras cento e cinqüenta jardas ou mais. Corri para ele e, enquanto o acompanhava, ouvi gritos agudos e choros terríveis. Uma bela e jovem senhora morrera instantaneamente em um dos compartimentos e foi trazida para cá; deitaram-na neste chão, aqui, entre nós dois.”
Involuntariamente, recuei minha cadeira, enquanto meu olhar ia das tábuas para as quais ele apontava para ele próprio.
“Verdade, senhor. Verdade. Foi exatamente assim que aconteceu, estou lhe dizendo.”
Eu não conseguia pensar em nada para dizer, nada que conviesse, e minha boca estava muito seca. O vento e os fios receberam a história com um longo gemido de lamento.
Ele recomeçou. “Agora, senhor, ouça bem e avalie a perturbação de meu espírito. O espectro voltou, uma semana atrás. Desde então, ele está lá, de quando em quando, intermitentemente.”
“Ao lado da lanterna?”
“Ao lado da lanterna de alerta.”
“O que ele parece estar fazendo?”
Ele repetiu, se possível com uma emoção e veemência maior, a gesticulação anterior de “Pelo amor de Deus, saia do caminho!”
Depois continuou: “Não tenho paz ou tranqüilidade por causa disso. Ele me chama, durante minutos seguidos, de uma forma angustiada, ‘Aí embaixo! Cuidado! Cuidado!’ Ele fica acenando para mim. Ele toca meu sininho...”
Nesse momento, eu o interrompi. “Ele tocou seu sino ontem à noite, quando eu estava aqui e você foi até a porta?”
Duas vezes.
“Ora, veja”, disse eu, “como sua imaginação o engana. Meus olhos estavam no sino, e meus ouvidos atentos, e se estou vivo, ele NÃO tocou então. Não, nenhuma vez, exceto do modo natural das coisas físicas, quando a estação comunicou-se com você.”
Ele balançou a cabeça. “Eu nunca me enganei, senhor. Nunca confundi a badalada do espectro com a humana. O badalar do fantasma é uma vibração estranha no sino que não provém de nada mais, e não afirmei que não se vê o sino balançar. Não surpreende que o senhor não o tenha ouvido. Mas eu ouvi.”
“E o espectro pareceu estar lá, quando você olhou para fora?”
“Ele estava lá.”
“Ambas as vezes?”
Repetiu com firmeza: “Ambas as vezes.”
“Você poderia ir até a porta comigo e procurá-lo agora?”
Ele mordeu o lábio inferior como se relutasse um pouco, mas levantou-se. Abri a porta e fiquei no degrau, enquanto ele se deteve na soleira. Ali estavam as altas paredes de pedras molhadas do entalho. Ali estavam as estrelas bem acima delas.
“Você o vê?”, perguntei-lhe, observando atentamente seu rosto. Seus olhos estavam arregalados e fatigados; mas não muito mais do que haviam estado os meus quando os dirigira atentamente para o mesmo ponto.
“Não”, respondeu ele. “Ele não está lá.”
“Exatamente”, disse eu.
Entramos novamente, fechamos a porta e sentamo-nos. Eu estava pensando em como aproveitar essa vantagem, se é que podemos chamá-la assim, quando ele retomou a conversa de um modo tão direto, admitindo que não poderíamos discordar seriamente diante do fato, que senti estar em uma posição muito desfavorável.
“A esta altura o senhor compreenderá perfeitamente”, disse ele, “que o que me perturba de modo tão terrível é a pergunta: o que quer dizer o espectro?”
Eu não tinha certeza, disse-lhe eu, de tê-lo compreendido perfeitamente.
“Ele está me avisando do quê?”, disse ele, ruminando, os olhos no fogo e apenas de vez em quando os voltando para mim. “Qual é o perigo? Onde está o perigo? Há um perigo à espreita, em algum lugar na linha. Alguma terrível desgraça está para acontecer. Quanto a isso não há dúvida, nesta terceira vez, depois do que aconteceu antes. Mas com certeza isso me atormenta. O que posso fazer?!”
Ele tirou seu lenço e enxugou as gotas de suor de sua testa febril.
“Se eu telegrafar: Perigo, para um dos lados ou para ambos, não posso alegar nenhum motivo para tanto”, continuou ele, enxugando as palmas das mãos. “Eu iria me arrumar problemas e não adiantaria nada. Eles pensariam que estou louco. O que sucederia seria isto: Mensagem ‘Perigo! Cuidado!’ Resposta: ‘Que Perigo? Onde?’ Mensagem: ‘Não sei. Mas, pelo amor de Deus, cuidado!’ Eles me demitiriam. O que mais poderia fazer?”
Seu sofrimento causava grande pena. Era a tortura mental de um homem consciencioso, oprimido intoleravelmente por uma responsabilidade ininteligível que envolvia vidas.
“Quando ele ficou pela primeira vez sob a luz de perigo”, continuou, afastando da testa seus cabelos escuros e esfregando as mãos pelas têmporas, num gesto de desespero febril, “por que não me dizer onde esse acidente devia acontecer — se ele devia acontecer? Por que não me dizer como ele poderia ter sido evitado — se ele pudesse ser evitado? Quando de sua segunda aparição, ele escondeu o rosto; por que, em vez disso, não me disse, ‘Ela vai morrer. Diga-lhes para mantê-la em casa?’ Se ele viesse, nessas duas ocasiões, apenas para me mostrar que seus avisos eram verdadeiros e portanto para preparar-me para o terceiro, por que simplesmente não me avisar agora? E eu, Deus me ajude, um simples e pobre sinaleiro neste lugar solitário! Por que não ir até alguém com credibilidade e poder para agir?!”
Quando o vi nesse estado, compreendi que, em favor do pobre homem, assim como para a segurança do público, o que me cabia fazer no momento era acalmá-lo. Conseqüentemente, deixando de lado toda discussão entre nós sobre o que era real e o que não era, argumentei com ele que quem quer que exercesse tão conscienciosamente sua função fazia-o bem, e que ao menos para seu consolo ele compreendia seu dever, embora não compreendesse essas aparições malditas. Nesse esforço eu me saí muito melhor do que na tentativa de convencê-lo de que estava errado. Ele ficou calmo; as ocupações inerentes a seu posto, à medida que a noite avançava, começaram a requisitar cada vez mais sua atenção, e eu o deixei às duas da manhã. Eu me ofereci para ficar a noite toda, mas ele absolutamente não quis.
Que eu mais de uma vez olhei para trás, para a luz vermelha, enquanto subia pelo caminho, que eu não gostava da luz vermelha e que teria dormido muito mal se minha cama estivesse sob ela são fatos que não vejo motivo para esconder. Nem gostei das duas seqüências do acidente e da moça morta. Não vejo motivo para esconder isso também.
Mas o que mais me ocupava o pensamento era a reflexão sobre como deveria agir, agora que me fora feita uma tal revelação. Eu verificara que o homem era inteligente, atento, escrupuloso e pontual; mas por quanto tempo ele continuaria assim, nesse estado de espírito? Apesar de sua posição subordinada, ele tinha uma responsabilidade da maior importância. Gostaria eu (por exemplo) de apostar minha própria vida nas possibilidades de ele continuar a executá-la com perfeição?
Incapaz de superar uma sensação de cometer de certa forma uma traição se comunicasse aos seus superiores na Companhia o que ele me dissera, sem primeiro ter uma conversa franca e propor uma solução intermediária para ele, resolvi por fim oferecer-me para acompanhá-lo (e também guardar segredo por uns tempos) ao melhor médico especialista que pudéssemos consultar na região e pedir sua opinião. Uma mudança no seu turno de serviço ocorreria na noite seguinte, segundo ele me informara; ele estaria livre uma hora ou duas após o amanhecer e voltaria logo depois do anoitecer. Tínhamos marcado nosso encontro conforme esse esquema.
A noite seguinte estava agradável, e eu saí cedo de casa, a fim de desfrutá-la. O sol ainda não se pusera quando atravessei a calçada próxima do topo do entalhe profundo. Eu estenderia minha caminhada por uma hora, disse comigo, meia hora para ir e meia hora para voltar, e então já seria hora de ir à cabina do meu sinaleiro.
Antes de prosseguir meu passeio, pisei na borda e mecanicamente olhei para baixo, no lugar de onde o vira pela primeira vez. Não consigo descrever o calafrio que me percorreu quando, junto à boca do túnel, vi o vulto de um homem, com sua manga esquerda sobre os olhos, acenando veementemente com o braço direito.
O indizível horror que me sufocava passou num minuto, pois logo vi que esse vulto era de fato um homem e que havia um pequeno grupo de outros homens em pé a uma pouca distância dali, para quem ele parecia estar encenando o gesto que fizera. A luz de perigo ainda não estava acesa. Junto ao poste, estava uma pequena tenda baixa, que nunca vira antes, com suportes de madeira e lona. Não parecia maior do que uma cama.
Com uma sensação inelutável de que havia algo errado — com um súbito medo do sentimento de culpa pelo erro fatal de ter deixado o homem ali e não ter feito com que enviasse alguém para supervisioná-lo ou corrigir o que ele fazia — desci o caminho chanfrado o mais depressa que pude.
“O que aconteceu?”, perguntei aos homens.
“O sinaleiro foi morto esta manhã, senhor.”
“Não é o homem daquela cabina, é?”
“É sim, senhor.”
“O homem que conheço?”
“O senhor o reconhecerá, se o conhecia”, disse o homem que era um porta-voz, descobrindo solenemente sua própria cabeça e levantando uma ponta da lona, “pois seu rosto não se alterou”.
“Meu Deus! Como isso aconteceu, como isso aconteceu?”, perguntei, virando para um e para outro, enquanto a cabina era novamente fechada.
“Ele foi morto por uma locomotiva, senhor. Ninguém na Inglaterra conhecia melhor seu trabalho do que ele. Mas, não se sabe por quê, ele não saiu do trilho externo. Foi em pleno dia. Ele havia acendido a luz e tinha na mão a lanterna. Quando a locomotiva saiu do túnel, ele estava de costas para ela e foi atingido. Aquele homem ali estava no comando e mostrando como aconteceu. Mostre a este cavalheiro, Tom.”
O homem, que usava uma capa tosca e escura, recuou para o lugar onde estivera antes, junto à boca do túnel.
“Depois da curva do túnel, senhor”, disse ele, “eu o vi no fim, como que numa luneta. Não deu tempo de diminuir a velocidade, e eu sabia que ele era muito cuidadoso. Como ele pareceu não ouvir o apito, eu desliguei a máquina quando estávamos próximos dele e chamei-o o mais alto que pude.”
“O que você disse?”
“Eu disse: Alô, aí embaixo! Cuidado! Cuidado! Pelo amor de Deus, saia do caminho!”
Levei um choque.
“Ah!, foi horrível, senhor. Eu não parei de gritar para ele. Pus meu braço na frente dos olhos, para não ver, e acenei este outro até o último momento; mas de nada adiantou.”
Para não prolongar a narrativa com detalhes acerca de algumas das estranhas circunstâncias mais do que de outras, posso, ao encerrá-la, sublinhar a coincidência de que o alerta do maquinista da locomotiva incluía não apenas as palavras que o infeliz sinaleiro repetira para mim e que dizia persegui-lo, mas também as palavras que não ele, mas eu próprio associara — e apenas mentalmente — ao gesto que ele imitara.

Do Blog Contos Fantásticos.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sons of Anarchy

 

234SONS OF ANARCHY: CR: Timothy White / FX.

Comecei assistindo Sons of Anarchy por gostar de motociclismo mas a série é MUITO mais que isso. Excelente roteiro, bons atores, trilha sonora ótima. Enfim, uma série que recomendo!!! Na net, encontra as 03 primeiras temporadas para baixar, com boa qualidade e legendado.

Momento Oooohhhhh…..

 

Beber água quando criança é tão difícil…

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A VIDA E OS PLANOS

lennon

__ Vida é o que acontece quando você está ocupado fazendo outros planos.

John Lennon

Vi no Análise Indiscreta.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

OLHE DE NOVO

 

cosmossagan

__ Look again at that dot. That’s here. That’s home. That’s us. On it everyone you love, everyone you know, everyone you ever heard of, every human being who ever was, lived out their lives. The aggregate of our joy and suffering, thousands of confident religions, ideologies, and economic doctrines, every hunter and forager, every hero and coward, every creator and destroyer of civilization, every king and peasant, every young couple in love, every mother and father, hopeful child, inventor and explorer, every teacher of morals, every corrupt politician, every “superstar”, every “supreme leader”, every saint and sinner in the history of our species lived there - on a mote of dust suspended in a sunbeam.

Carl Sagan.

LOU REED E O ÔNIBUS

Busload Of Faith

You can't depend on your family

You can't depend on your friends

You can't depend on a beginning

You can't depend on an end

You can't depend on intelligence

Ooohhh, you can't depend on a God

You can only depend on one thing

You need a Busload

of Faith to get by

Watch, baby

Busload of Faith to get by

Busload of Faith to get by

Busload of Faith to get by

You need a Busload

of Faith to get by

You can depend on the worst always happening

You can depend on a murderer's drive

You can bet that if he rapes somebody

There'll be no problem having a child

And you can bet that if she aborts it

Pro-Lifers will attack her with rage

You can depend on the worst always happening

You need a Busload

of Faith to get by, yeah

Busload of Faith to get by

Busload of Faith to get by

Busload of Faith to get by, babe

Busload of Faith to get by

You can't depend on the goodly hearted

The goodly hearted made lampshades and soap

You can't depend on the Sacrament

No Father, no Holy Ghost

You can't depend on any churches

Unless there's a real estate you want to buy

You can't depend on a lot of things

You need a Busload of Faith to get by, wow

Busload of Faith to get by

Busload of Faith to get by

Busload of Faith to get by

Busload of Faith to get by

You can't depend on no miracle

You can't depend on the air

You can't depend on a wise man

You can't find them because they're not there

You can depend on cruelty

Crudity of thought and sound

You can depend on the worst always happening

You need a Busload of Faith

to get by, ha

Busload of Faith to get by

Busload of Faith to get by

Busload of Faith to get by

Busload of Faith to get by

UM ÔNIBUS LOTADO DE FÉ:

Você não pode contar com a sua família

Você não pode contar com os seus amigos

Você não pode contar com um começo

Você não pode contar com um final

Você não pode contar com a inteligência

Ooohhh, você não pode contar com Deus

Você só pode contar em uma coisa

Você precisa de um ônibus lotado

de fé para sobreviver

Veja baby

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Você precisa de um ônibus lotado

de fé para sobreviver

Você pode contar com o pior sempre acontecendo

Você pode contar com o passeio de um assassino

Você pode apostar que se ele estuprar alguém

Não haverá problemas em ter uma criança

E pode apostar que se ela abortar

Ativistas Pró-Vida irão atacar com fúria

Você pode contar com o pior sempre acontecendo

Você precisa de um ônibus lotado

de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver, babe

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Você não pode contar com os corações bondosos

Corações bondosos fizeram chapéus para abajur e sabão

Você não pode contar com o Sacramento

Nenhum Pai ou Espírito Santo

Você não pode contar com nenhuma igreja

A não ser que seja um terreno que você queira comprar

Você não pode contar com muitas coisas

Você precisa de um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Você não pode contar com nenhum milagre

Você não pode contar com o ar

Você não pode contar com um homem sábio

Você não consegue encontra-los porque não estão lá

Você pode contar com a crueldade

Crueza de pensamento e som

Você pode contar com o pior sempre acontecendo

Você precisa de um ônibus lotado

de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

Um ônibus lotado de fé para sobreviver

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

BATMAN INCORPORATED

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O porra-louca Morrison em mais uma loucura que provavelmente vai ser muito boa.

RED HILL

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Sinopse: Shane Cooper é um jovem policial que se transfere para a pequena comunidade de Red Hill, onde espera começar com sua esposa grávida uma nova família. Mas quando chegam as notícias de uma fuga da prisão, os policiais do local entram em pânico, e o primeiro dia de Shane irá de mal a pior. Jimmy Conway é um assassino convicto que está buscando vingança. E agora, em meio a um terrível banho de sangue, Shane se verá obrigado a tomar a justiça em suas mãos se quiser sobreviver. Assista ao Trailer. Mais um oferecimento do Filmes com legenda. Clique na imagem.

PIERROT

José Marcelo

enfaixada

A mulher calou-se. Apertava o volante com tanta força que seus dedos estavam brancos demais, como mármore gelado.

__ O que você vai fazer? __ perguntou ela.

O homem desfigurado observava a casa nua através do pára-brisa imundo. Ele pegou a arma no porta-luvas e abriu a porta do carro com a mão enfaixada, manchada de sangue, trêmula. Saiu andando devagar pela estrada enlameada.

A mulher também desceu.

__ Isso vai dar em nada, a não ser dor __ disse ela.

A floresta à beira da estrada parecia uma mortalha, silenciosa e exalando um odor carregado, enquanto ambos se aproximavam da casa.

A mulher disse:

__ Vamos embora.

__ Não.

__ Não? Por que não?

__ Não. Só isso. Não.

__ Você quer morrer?

O homem olhou-a demoradamente, mas sem diminuir o passo, para que ela pudesse ver as cicatrizes, as marcas, a dor. Ela não pareceu abalar-se:

__ Isso não é motivo.

__ É o suficiente.

__ Eu te peço. Não faça isso. Não.

__

__ Você não tem medo?

__ Nada.

__ Como?

__ Antes eu sentia medo, raiva, vontade de chorar, um monte de coisas.  Sentimentos. Agora, agora eu não sinto nada.

__ Deixa pra lá, por favor, deixa pra lá. Esquece. Não faz isso. Eu te peço.

__ Você devia ter ficado no carro.

Ela parou. Começara a chover, uma chuva fina e fria. A chuva pesou sobre seus cabelos e ela ficou olhando-o entrar na casa.

Fechou os olhos e esperou pelo barulho dos tiros.

BUCK ROGERS

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Prepara-se para uma releitura espetacular do clássico herói da Sci-Fi: Buck Rogers. Pronto para encarar o novo século. Parceria The Centurions & Gibiscuits. Clique na imagem.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A MORTE DO FAZEDOR DE FILMES

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__ Muito cedo eu percebi que o lugar mais emocionante do cinema é atrás da câmera.

Dino de Laurentis (1919 – 2010)

CINEMA E LITERATURA

Rubem Fonseca

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Os jovens, da minha geração, queriam ser poetas. Mas alguns sonhavam com a poesia porque o cinema era um sonho que parecia impossível. Hoje os jovens sonham, e se realizam, com o cinema. Eu sempre gostei de cinema, mas tornei-me apenas um cinéfilo. Só fui me envolver com essa atividade depois de ter escrito duas dúzias de livros. Mas o meu envolvimento tem sido como roteirista, não obstante eu deva confessar que gostaria também de ser diretor.
Já escrevi roteiros baseados em romances ou contos meus – A grande arte, O caso Morel, que infelizmente não foi terminado; Bufo&Spallanzani; Relatório de um homem casado e acabo de escrever o roteiro de Diário de um fescenino. Já escrevi roteiros originais (Stelinha, A extorsão) e, finalmente, escrevi roteiros baseados em romances dos outros – O homem do ano, baseado no livro O matador, de Patrícia Melo e dirigido por José Henrique Fonseca.
O que foi mais difícil?
O mais difícil é fazer um roteiro baseado em obra literária já publicada, como no caso de O homem do ano. Até nos casos em que eu mesmo havia escrito a obra literária, como Bufo&Spallanzani, o roteiro foi mais difícil de escrever. Se vocês perguntarem ao Jean-Claude Carrière, que já escreveu dezenas de roteiros, o que foi mais trabalhoso e difícil de fazer, o roteiro de The unbearable lightness of being, baseado no livro de Milan Kundera, ou o roteiro original de Le charme discret de la bourgeoisie, ele responderá que foi o roteiro baseado no romance do Kundera.  
Um roteiro é escrito várias vezes. Isso, aliás, é comum na feitura de textos literários em geral, principalmente na poesia. (Um poema nunca termina de ser escrito, ele é abandonado, como disse Valèry, o que vale para os textos literários também). Consta que Platão escreveu a primeira frase de A república cinqüenta vezes. Flaubert ficou trinta anos escrevendo A tentação de santo Antonio. Poderia citar dezenas de exemplos dessa fúria revisória, nos vários gêneros literários, mas toda citação excessiva de nomes, até em textos acadêmicos, é uma chatice.
Com os roteiros cinematográficos ocorre a mesma coisa, a diferença é que além do autor do roteiro, outras pessoas participam dessa revisão, quase sempre o diretor do filme, notadamente aqui no nosso país, e também o produtor. Isso aconteceu comigo, quando trabalhei, entre outros, com os Tambellini (pai e filho, em épocas diferentes), a Suzana Amaral, o Walter Salles, o Miguel Faria, e, mais recentemente, com o José Henrique Fonseca.
O que queremos todos nós envolvidos nesse processo?  Os mais pretensiosos (e todo aquele que quer criar alguma coisa deve ser "pretensioso", buscar o seu nível de excelência) querem realizar uma obra de arte. Wagner quando compôs suas óperas almejava alcançar aquilo que ele denominava Gesamtkunstwerk – a obra de arte completa, que englobasse a música, a poesia e o drama, a pintura, a arquitetura, a dança. Estávamos no século XIX e se alguma arte poderia megalomaniacamente dizer isso era a ópera.
Já existia uma coisa chamada "lanterna mágica", que havia surgido no século XVII, um foco de luz que iluminava placas de vidro pintadas à mão. Essas imagens eram projetadas numa parede branca e os temas representados estavam ligados à religião. Chamava a atenção tanto de adultos como de crianças. Certamente não era a Gesamtkunstwerk apregoada por Wagner.
Demorou algum tempo até que os irmãos Lumière – August e Louis – no fim do século XIX, 1895, criassem o cinematógrafo, uma espécie de ancestral da filmadora, movido a manivela, utilizando negativos perfurados para registrar o movimento. O cinematógrafo tornou possível a projeção de imagens para o público. Eram imagens em movimento, não aquela coisa parada da lanterna mágica.
Há mais de cem anos, em 28 de dezembro de 1895, ocorreu a primeira exibição pública das obras dos Lumière, no Grand Café, de Paris – A saída dos operários das usinas Lumière, A chegada do trem na estação, O almoço do bebê, O mar foram alguns dos filmes apresentados, que deixaram os espectadores atônitos. As produções eram rudimentares, e, como vimos, documentários curtos sobre a vida quotidiana, de dois minutos de projeção, filmados. A apresentação pública do cinematógrafo marcou oficialmente o início da história do cinema. Porém faltava uma coisa muito importante – o som.  Que somente apareceu três décadas depois, no final dos anos 20.
O invento dos Lumière se desenvolveu. Os cineastas, além dos documentários, partiram para a ficção. Surgiram Max Linder (que teria inspirado Chaplin) e outros comediantes, em vários paises. O americano Edwin S. Porter, em 1903, apresenta um trabalho pioneiro em a Vida de um bombeiro americano e, com O grande roubo do trem, inaugura o western.
Despontam então dois grandes nomes dos primórdios do cinema: George Meliés e David Griffith. Meliés nasceu na França em 1861 e morreu em 1938. Meliés foi um pioneiro na utilização de figurinos, atores, cenários e maquiagem, opondo-se ao estilo documentarista. Realizou os primeiros filmes de ficção, Viagem à lua e A conquista do Pólo, em 1902. O outro precursor é David Griffith, nascido nos Estados Unidos em 1875, onde morreu em 1948. No cinema foi o primeiro a tirar a câmera do tripé e a usar a montagem de uma maneira dinâmica e criativa. Com The birth of a nation (O nascimento de uma nação), de 1915, abriu caminho para a criação da indústria cinematográfica americana. (Dizem que Griffith visualizou o filme inteiro em sua mente e não escreveu um roteiro nem fez quaisquer anotações, mas eu não acredito nisso. Esta sentença "uma idéia na cabeça e uma câmera na mão" é responsável por muita porcaria.) Com Intolerância, de 1916, Griffith fortaleceu o impulso dado com The birth...
Começaram a chamar o cinema de a Sétima Arte. Havia sido encontrada a almejadaGesamtkunswerk do Wagner? Sim? Não?
Não. O cinema era mudo, não tinha a poesia dos textos falados, nem a música, essas formas de arte da maior importância. Como poderia arrogar-se o direito àGesamtkunstwerk? Era um excesso de (bem-vinda) pretensão.
As primeiras experiências de sonorização, feitas por Thomas Edison, em 1889, são seguidas por Auguste Baron (1896) e por Henri Joly (1900), mas os seus sistemas ainda tinham sérias falhas de sincronização imagem-som. O aparelho do americano Lee de Forest, de gravação magnética em película (1907), que permitia a reprodução simultânea de imagens e sons, foi adquirido em 1926 pela Warner Brothers. A companhia produziu o primeiro filme com música e efeitos sonoros sincronizados – Don Juan, de Alan Crosland, e o primeiro com passagens faladas e cantadas, O cantor de jazz (1927), também de Crosland, com Al Jolson, grande nome da Broadway. E ainda o primeiro inteiramente falado, Luzes de Nova York, de Brian Foy (1928). No ano seguinte, 1929, o cinema falado já representava 51% da produção americana. Outros centros, notadamente França, Alemanha, Suécia e Inglaterra começaram a explorar o som. A partir de 1930, Rússia, Japão, Índia e os países da América Latina recorrem à nova descoberta. A adesão de quase todas as produtoras ao novo sistema abalou convicções, causou o afastamento de atores e diretores. A linguagem cinematográfica teve que ser reformulada. Diretores importantes, como Charlie Chaplin e René Clair, entre outros, resistiram, dizendo que o cinema não precisava da fala dos artistas. Mas os dois acabaram aderindo, como sabemos, não obstante o cinema falado de Chaplin seja muito inferior ao que ele fazia antes. Alguns de seus filmes, como A Countess from Hong Kong (1967)  eA King in New York (1957) são extremamente decepcionantes.
Durante a I Guerra Mundial, a produção de filmes concentra-se em Hollywood, na Califórnia, onde surgem os primeiros grandes estúdios. Dos anos 1930 até hoje a maior parte da produção mundial converge para Hollywood, mas muitos centros espalhados por todos os continentes produzem obras que merecem destaque.
Afinal, o que é o cinema, hoje? É chamado de a sétima arte, o que é correto. Mas ainda não podemos chamar o cinema de Gesamtkunstwerk, obra de arte completa. O cinema é, por enquanto, uma arte híbrida. E o problema principal é que o filme depois de algum tempo fica "datado", um bom filme antigo não é fruído com a mesma admiração, como ocorre com as outras boas obras de arte. Pode-se ouvir Mozart, ou reler o Dom Quixote, ou contemplar a capela Sistina com o mesmo prazer da primeira visita. No cinema, um filme antigo, com algumas raras exceções, pode ser visto apenas como curiosidade histórica. (Há casos de sofisticados cinéfilos que gostam e revêem filmes antigos, descobrindo novidades neles). Essa datação que o cinema sofre me parece ser o problema que exige que a sétima arte, ou "the industry", como os americanos a definem, seja um objeto de consumo renovado incessantemente. Pensem nisso, meus leitores do Portal Literal.
Para finalizar este artigo que já se estendeu demasiadamente, quero abordar a adaptação cinematográfica de obras literárias.
Antes de mais nada devo dizer que escrever para o cinema é diferente de qualquer outra forma de expressão escrita. Os elementos visuais são tão importantes quanto as descrições e diálogos. Como o investimento é muito grande, o roteiro tem que ser do agrado do produtor. E, como disse acima, o diretor também sempre interfere e o roteiro sempre passa por diferentes tratamentos, que levam em consideração uma porção de aspectos, um deles, talvez o mais importante, a aprovação do público. O escritor de ficção não tem que se incomodar com isso. Contudo, sem a imaginação dos roteiristas, boas histórias nunca são contadas no cinema. O cineasta e teórico russo Lev Vladimirovich Kulechov, que introduziu a arte da montagem, afirma em seu livro A arte do cinema que cinema é basicamente argumento e montagem, ou seja, as duas figuras mais importantes do filme são o roteirista e o montador. Eu concordo com ele, quanto à importância fundamental do roteirista, mas acredito que a figura do diretor é ainda mais importante. Reconheço que o cinema é, como diz a propaganda, "a maior diversão", que o cinema é a sétima arte. Ainda que não seja a obra de arte total é uma arte que usa as outras artes como suportes, da melhor maneira possível.
Mas, apenas para provocar, faço a seguinte pergunta: O que é mais importante como Arte, a palavra escrita – poesia, ficção, teatro – ou o cinema? Qual das duas pode atingir um nível de excelência mais elevado?
Que tal, apenas como exercício, compararmos as vantagens da literatura e as do cinema? Vamos, brevemente, examinar isso.
Vantagens da literatura:
1 - Polissemia e participação criativa. O David Neves, quando resolveu filmar a minha história Lúcia McCartney, disse-me que tinha a Lúcia "perfeita, exatamente como você a descreve no livro" e marcou um almoço nosso. A Lúcia, "exatamente como eu a descrevia no livro", segundo o David, era a Adriana Prieto, uma mulher jovem de cabelos louros, olhos azuis, lábios finos, um rosto bonito que lembrava as atrizes européias nórdicas. "Não é igualzinha?", perguntou o David. Evitei responder. Na verdade eu não descrevo a Lúcia na minha história, ela pode ser branca, mulata, negra, magra ou gorda. Porque essa é a grande riqueza da literatura, a participação do leitor, que preenche as lacunas deixadas pelo autor, do leitor que  usa a sua imaginação recriando a história que leu, reinventando os personagens. O cinema não permite isso. A Lúcia era, axiomaticamente, uma linda e elegante mulher loura de olhos azuis. O espectador não precisava (nem podia) usar a sua imaginação. O leitor compartilha do livro não apenas estética e emocionalmente, ele tem uma participação criativa. Ele sempre "reescreve" o livro, à sua maneira.
2 - Permanência. Vejam que tipo de reação despertam os filmes clássicos, Grifith, e outros. Eles ficam "datados".
3 - O filme necessita da palavra escrita, até o cinema mudo precisava. Lembram-se de Kulechov – argumento e montagem?
4 – Literatura é tão importante que diretores do mainstream, como Scorsese, Spielberg e outros, aconselham os diretores a lerem, por considerarem a leitura importante para o trabalho que realizam. Nenhum escritor aconselha outros escritores a irem ao cinema, por ser importante para o trabalho que fazem. Há uma frase interessante do escritor Gore Vidal que, além de romancista famoso escreveu vários roteiros. Vidal afirma: "Cinema é roteiro. Uma coisa é certa: o roteiro é fundamental para o filme. Assim como para o corpo humano uma boa e simétrica estrutura óssea é que vai permitir ao corpo ser bonito e atraente, no cinema isso é feito pelo roteiro". Cinema é argumento e montagem, estou repetindo Kulechov. Chaplin usava menos de dez por cento do que ele filmava, o resto era cortado na sala de montagem.
Vantagem do cinema:
Tem que haver uma razão para a popularidade do cinema.
Com exceção de alguns poucos ensaístas franceses rabugentos, não me lembro de nenhum escritor, músico, pintor que não goste de cinema, todo mundo gosta de cinema. Talvez porque, mesmo tendo por enquanto falhado em tornar-se aGesamtkunstwerk wagneriana, é a arte que mais se aproxima desse ideal, e talvez, um dia, venha a deixar de ser uma arte apenas híbrida para tornar-se uma arte completa.
Concluo, agora realmente, fazendo uma relação, breve – e arbitrária evidentemente – de filmes melhores e filmes piores do que a obra literária.
Alguns filmes melhores do que o livro:
Gone with the Wind ou E o vento levou. O filme dirigido por Victor Fleming é melhor do que o romance da Margareth Mitchell.
The Godfather. O filme de Francis Ford Coppola é melhor do que o livro do Mario Puzzo, do mesmo nome. 
Blade Runner. O filme de Ridley Scott é melhor do que o livro do criativo Philip K. Dick, Do Androids Dream of Electric Sheep? no qual se baseia. (Não usaram o nome do livro porque, para os produtores, não devia ser muito comercial).
Filmes piores do que o livro:
Eles são tantos, os filmes piores do que os livros, que seria cansativo arrolar todos aqui. Todos os filmes baseados em Homero, Proust, Kafka, Joyce (com uma ressalva), Tolstoy, Tchecov, Remarque, Victor Hugo, Poe, Thomas Mann, Hemingway, Fitzgerald, não importa a categoria literária, pode até ser romance policial como os de Wilkie Collins, Raymond Chandler, Dashiell Hammett são inferiores ao original literário.
Como sempre, existem exceções, filmes que mantêm o mesmo nível do original literário, como Berlin Alexanderplatz (Alfred Döblin/Fassbinder), The Dead(Joyce/Huston – a ressalva que fiz acima), entre outros.
Essas listas de filmes ocupariam um montão de páginas. Meus leitores do Portal Literal que façam as deles.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

KAKUSHI-TORIDE NO SAN-AKUNIN

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The Hidden Fortress Do diretor Akira Kurosawa.

A MARCA DA MALDADE

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Sinopse: Ao investigar um assassinato, Ramon Miguel Vargas (Charlton Heston), um chefe de polícia mexicano em lua-de-mel em uma pequena cidade da fronteira dos Estados Unidos com o México, entra em choque com Hank Quinlan (Orson Welles), um corrupto detetive americano que utiliza qualquer meio para deter o poder. Para baixar, clique na imagem. Créditos para o pessoal do Filmes com Legenda.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O UNIVERSO STAR WARS

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Mapa de uma galáxia muito muito distante. Clique na imagem para ampliar. Vi no blog Doutor Caligari.

O ENTERRO DOS MORTOS

T.S. Eliot

poesia

Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos agasalhava, envolvendo
A terra em neve deslembrada, nutrindo
Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
O verão; nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee
Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos
E ao sol caminhamos pelas aléias de Hofgarten,
Tomamos café, e por uma hora conversamos.
Big gar keine Russin, stamm' aus Litauen, echt deutsch.
Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,
Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.
E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,
Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.
Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.
Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.
Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam, nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto
De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.
Frisch weht er Wind
Der Heimat zu
Mein Irisch Kind,
Wo weilest du?
''Um ano faz agora que os primeiros jacintos me deste;
Chamavam-me a menina dos jacintos."
- Mas ao voltarmos, tarde, do Jardim dos Jacintos,
Teus braços cheios de jacintos e teus cabelos úmidos, não pude
Falar, e meus olhos se enevoaram, eu não sabia
Se vivo ou morto estava, e tudo ignorava
Perplexo ante o coração da luz, o silêncio.
Oed' und leer das Meer.
Madame Sosostris, célebre vidente,
Contraiu incurável resfriado; ainda assim,
É conhecida como a mulher mais sábia da Europa,
Com seu trêfego baralho. Esta aqui, disse ela,
É tua carta, a do Marinheiro Fenício Afogado.
(Estas são as pérolas que foram seus olhos. Olha!)
Eis aqui Beladona, a Madona dos Rochedos,
A Senhora das Situações.
Aqui está o homem dos três bastões, e aqui a Roda da Fortuna,
E aqui se vê o mercador zarolho, e esta carta,
Que em branco vês, é algo que ele às costas leva,
Mas que a mim proibiram-me de ver. Não acho
O Enforcado. Receia morte por água.
Vejo multidões que em círculos perambulam.
Obrigada. Se encontrares, querido, a Senhora Equitone,
Diz-lhe que eu mesma lhe entrego o horóscopo:
Todo o cuidado é pouco nestes dias.
Cidade irreal,
Sob a fulva neblina de uma aurora de inverno,
Fluía a multidão pela Ponte de Londres, eram tantos,
Jamais pensei que a morte a tantos destruíra.
Breves e entrecortados, os suspiros exalavam,
E cada homem fincava o olhar adiante de seus pés.
Galgava a colina e percorria a King William Street,
Até onde Saint Mary Woolnoth marcava as horas
Com um dobre surdo ao fim da nona badalada.
Vi alguém que conhecia, e o fiz parar, aos gritos: "Stetson,
Tu que estiveste comigo nas galeras de Mylae!
O cadáver que plantaste ano passado em teu jardim
Já começou a brotar? Dará flores este ano?
Ou foi a imprevista geada que o perturbou em seu leito?
Conserva o Cão à distância, esse amigo do homem,
Ou ele virá com suas unhas outra vez desenterrá-lo!
Tu! Hypocrite lecteur! - mon semblable -, mon frère

Vi no zumbidownload.

FARGO

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__ That’s a fountain of conversation there, buddy. That’s a geyser.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Superman e Shazam: O Retorno de Adão Negro

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Sinopse: O desenho mostra Clark Kent entrevistando o garoto Billy Batson, que secretamente é o Capitão Marvel. Juntos, Superman e Capitão Marvel terão de enfrentar o vilão assassino Adão Negro. Assista ao Trailer.

Para baixar, clique na imagem e vá ao Filmes com legenda.