José Marcelo
A mulher calou-se. Apertava o volante com tanta força que seus dedos estavam brancos demais, como mármore gelado.
__ O que você vai fazer? __ perguntou ela.
O homem desfigurado observava a casa nua através do pára-brisa imundo. Ele pegou a arma no porta-luvas e abriu a porta do carro com a mão enfaixada, manchada de sangue, trêmula. Saiu andando devagar pela estrada enlameada.
A mulher também desceu.
__ Isso vai dar em nada, a não ser dor __ disse ela.
A floresta à beira da estrada parecia uma mortalha, silenciosa e exalando um odor carregado, enquanto ambos se aproximavam da casa.
A mulher disse:
__ Vamos embora.
__ Não.
__ Não? Por que não?
__ Não. Só isso. Não.
__ Você quer morrer?
O homem olhou-a demoradamente, mas sem diminuir o passo, para que ela pudesse ver as cicatrizes, as marcas, a dor. Ela não pareceu abalar-se:
__ Isso não é motivo.
__ É o suficiente.
__ Eu te peço. Não faça isso. Não.
__
__ Você não tem medo?
__ Nada.
__ Como?
__ Antes eu sentia medo, raiva, vontade de chorar, um monte de coisas. Sentimentos. Agora, agora eu não sinto nada.
__ Deixa pra lá, por favor, deixa pra lá. Esquece. Não faz isso. Eu te peço.
__ Você devia ter ficado no carro.
Ela parou. Começara a chover, uma chuva fina e fria. A chuva pesou sobre seus cabelos e ela ficou olhando-o entrar na casa.
Fechou os olhos e esperou pelo barulho dos tiros.
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