sábado, 30 de junho de 2007

PARA LER E RELER:


SINOPSE OFICIAL DA EDITORA ROCCO: Cantiga de Ninar... O nome deste livro parece sugerir inocência. Mas como o escritor em questão é Chuck Palahniuk, autor do cultuado Clube da luta, o que se tem aqui é o mais puro humor negro – a Cantiga de ninar a que o título se refere é uma canção relacionada à morte de inúmeras pessoas, especialmente de bebês. Desta vez, Palahniuk usa sua narrativa moderna com temperos bizarros para fazer uma crítica à cultura de massas, num texto divertido e ao mesmo tempo sombrio, como é sua marca registrada.

O narrador é Carl Streator, um jornalista que está investigando casos de síndrome de morte infantil súbita para uma série de reportagens que pretende publicar. Ele logo descobre que algumas das mortes têm um estranho detalhe em comum: antes de morrer subitamente, os bebês ouviram seus pais lerem o mesmo trecho de um determinado livro raro. Trata-se de uma compilação de canções tradicionais de culturas antigas, cujos versos da página 27 são capazes de matar qualquer pessoa que os ouça.

No início, o jornalista entoa a cantiga mortífera para seu chefe, só para checar se ela é mesmo capaz de matar – e ela é, como a experiência confirma. Mas os versos grudam em sua mente como se fossem uma canção pop fabricada para o sucesso, de modo que Streator não consegue parar de matar as pessoas, qualquer uma que atravesse seu caminho enquanto ele relembra os versos. Já nem é preciso pronunciá-los para matar, basta pensar neles. Assim, Streator se torna um serial killer involuntário, desesperado para cessar a matança.

Em sua investigação sobre as mortes de bebês, Streator descobre a mulher que considera a heroína desta história: Helen Hoover Boyle, uma das mães desafortunadas que mataram seus filhos sem querer. Só que a heroína do romance é alguém que não tem o menor respeito pelas pessoas. Ela ganha a vida como corretora de imóveis, mas sua especialidade é vender casas mal-assombradas, sem que seus clientes saibam deste detalhe. Qualquer outro corretor evitaria um imóvel assim, mas Helen soube ocupar com inteligência (e muita má-fé) este "nicho" do mercado imobiliário: como ninguém consegue viver por muito tempo numa casa habitada por almas-penadas, o imóvel acaba sendo vendido e revendido dezenas de vezes num curto período de tempo, multiplicando as comissões da corretora.

Assim, como Streator, Helen também adquiriu involuntariamente esse dom de matar com o pensamento. O que ele deseja é que ela lhe explique como conseguiu lidar com isso durante quase 20 anos sem enlouquecer. Helen, entretanto, tem uma "fórmula" nada nobre para não sair exterminando a humanidade com a força da mente – ela mata uma pessoa por dia, como uma obrigação, pois ao se concentrar num alvo específico ela poupa todas as outras pessoas. E Helen ainda encontra uma maneira de lucrar com isso. Já que é para matar diariamente, ela se torna assassina profissional, a melhor do mundo, pois jamais deixa pistas. Se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente.

Streator e Helen sabem, melhor que qualquer um, o que significa a máxima segundo a qual conhecimento é poder. Como ele diz: "Num mundo em que as juras não têm nenhum valor, em que fazer um juramento nada significa, em que as promessas são feitas para serem quebradas, seria agradável ver as palavras de volta ao poder." Enquanto tenta se adaptar à sua nova realidade, Streator se entrega a uma série de questionamentos. Temos livre-arbítrio? Ou Deus determina tudo o que fazemos? Ou a mídia e a cultura de massas controlam nossos desejos e atos? E se alguém musicar a tal "Cantiga de ninar" e ela fizer sucesso nas rádios? E se ela tocar como fundo musical de algum programa líder de audiência no horário nobre da TV? Dezenas de milhões morreriam imediatamente nos EUA. E outras centenas de milhões morreriam pelo mundo quando o programa fosse exibido em outros países. Isso sem contar as reprises.

Dispostos a destruir a página 27 de todas as 300 cópias existentes do perigoso livro de versos, Helen e Streator põem o pé na estrada e percorrem os EUA de ponta a ponta, dando batidas inusitadas em bibliotecas e residências particulares. Eles matam qualquer um que se meta em seu caminho, com a justificativa de que é para impedir que muitos mais morram. Eles querem evitar que mais gente descubra o poder letal da misteriosa cantiga e a humanidade acabe se aniquilando. Para ajudá-los nessa viagem insana, a dupla conta com mais duas pessoas: Mona, secretária de Helen, e Ostra, uma espécie de terrorista pós-moderno, cujo hobby é destruir a reputação de empresas e organizações, ao publicar anúncios que convocam a população a participar de ações indenizatórias coletivas contra elas. Os quatro precisam confiar uns nos outros, mas também precisam desconfiar. Afinal de contas, quem garante que nenhum deles está interessado em destruir os livros apenas para ser o único detentor do poder de matar com palavras? De qualquer forma, é melhor eles se apressarem, pois já tem um necrófilo por aí usando a "Cantiga de ninar" para satisfazer suas fantasias sexuais com as mais belas defuntas da América.

TRECHO:

"Esses barulhômanos. Esses calmófobos.
... Até no banheiro, até tomando uma chuveirada, você consegue oubir o falatório no rádio por cima da sibilar da ducha .... Ou um dinossauro voador pré-histórico despertado por um teste nuclear está prestes a destruir o pessoal do andar de baixo ou a televisão deles está alta demais ... Num mundo em que as juras não tem nenhum valor, em que fazer um juramento nada significa, em que as promessas são feitas para serem quebradas, seria agradável ver as palavras de volta ao poder" (pág. 72)

"Pergunto no que esta viagem está se transformando.
- No que sempre foi. - Ostra passa uma mecha por uma moeda de I Ching. - Uma grande luta pelo poder. Você quer manter o mundo como ele é hoje, papai, só que com você no comando.
Helen, diz ele, também quer o mesmo mundo, só que com ela no comando. Toda geração quer ser a última. Toda geração odeia as novas tendências musicais que não consegue compreender. Nós detestamos renunciar às redeas da nossa cultura. ... Já eu sou a favor de apagar tudo, eliminar os livros e as pessoas e recomeçar do zero. Sou a favor de ninguém no comando. ... " (págs. 173/4)

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