- E não me diga que Deus trabalha por caminhos misteriosos - continuou Yossarian, passando por cima das objeções dela. - Não há nada de misterioso. Ele simplesmente não está trabalhando. Está mais é brincando. Ou então esqueceu-se completamente de nós. Esse é o tipo de Deus sobre o qual vocês costumam falar: um caipira, desajeitado, confuso, trapalhão, presunçoso e esquisito. Bom Deus, como é que se pode ter reverência por um ser supremo que acha necessário incluir em seu sistema divino de criação fenômenos como o catarro e a cárie dentária? O que passou pela sua mente deformada, diabólica e escatológica quando roubou aos velhos a capacidade de controlar os movimentos das entranhas? Por que razão tinha que criar a dor?
- A dor - disse a esposa do Tenente Scheisskopf, vitoriosamente, agarrando a oportunidade com unhas e dentes. - A dor é um sintoma da maior utilidade. A dor constitui um aviso dos perigos para o corpo.
- E quem criou esses perigos? - perguntou Yossarian, com uma risadinha cáustica. - Oh, ele estava realmente sendo caridoso conosco quando nos deu a dor! Por que, em vez disso, não poderia ter usado uma campainha de porta para nos avisar? Ou então um dos seus coros celestiais? Ou até mesmo um sistema de tubos de luz neon, vermelha e azul, embutidos no meio da testa de cada pessoa. Qualquer fabricante de vitrolas automáticas poderia fabricar um negócio desses com a maior facilidade. Por que, então, ele não pôde fazê-lo?
- As pessoas certamente pareceriam tolas andando com tubos de luz neon embutidos na testa.
- E por acaso elas parecem bonitas agora, contorcendo-se em agonia ou embrutecidas por uma dose de morfina? Mas que trapalhão colossal e imortal! E quando a gente pensa na oportunidade e no poder que ele tinha de fazer um trabalho e tanto, fica-se ainda mais impressionado com toda essa confusão estúpida e horrível que ele criou. A incompetência dele é impressionante. É evidente que nunca teve que se preocupar com uma folha de pagamento. Nenhum homem de negócios que se preze jamais iria contratá-lo sequer para encarregado da expedição!
JOSEPH HELLER
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