domingo, 2 de maio de 2010

A manhã seguinte


Despertamos. O sol resplandecia escasso
Através das frestas estreitas da persiana cinza
Você bocejou profundamente. E confesso sinceramente:
Não soou bem. – Para mim está claro agora,
Os casais não ardem sempre de paixão
Estava deitada na cama. Você se olhava no espelho
Absorto em fazer a barba discreto.
Pegava a escova e o tubo de creme
Eu lhe observava em silêncio. Você carregava o emblema
Do marido tal como está nos livros.
Como de repente tantas coisas me incomodam!
O quarto, você, o buquê de flores murchando
Os copos que esvaziamos ontem à noite
O resto de geléia que comemos
... Tudo isso de manhã parece outra coisa.
No café-da-manhã você se cala (dedicando-se aos pãezinhos.)
É higiênico, mas não belo.
Vi a geléia de frutas nos seus lábios
E lhe vi encharcar pão com manteiga no café
E algo assim eu não suporto ver nem morta!
Vesti-me. Você examinou minhas pernas.
Cheirava a café tomado havia muito tempo.
Fui até a porta. Meu expediente começava às nove.
Muitas coisas me passavam pela cabeça. – Disse apenas uma:
(Então, já está mais do que na hora! Eu já vou...)

Mascha Kaléko

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