José Marcelo
O rosto no espelho de um mictório público imundo. Um rosto marcado, sujo, velho, feio. Apenas outra noite fodida morrendo no canto do mundo.
E a luz do sol - rascunhos de claridade na janela empoeirada que não trazem nenhum prazer.
E a porta que se abre com uma pancada seca:
__ Que porra, Leroy, olha quem tá aqui! Olha quem tá aqui. Filho da puta filho da puta. Você não imagina o quanto eu queria te encontrar. Tá vendo, Leroy, tá vendo quem tá aqui?
A rizada de Leroy é um cacarejo:
__ Ic ic ic ic ic. É ele, Junior, é ele sim.
Ele não olha. O seu rosto no espelho o hipnotiza e ele – ele quer apenas ir para casa.
__ Que porra, se não é aquele merda que bateu na nossa Suely.
Ele sente o fedor da bebida quando Junior murmura em seu ouvido:
__ Oi, seu merda. Sabe o que acontece agora, não sabe? Seu merda. Seu MERDA.
Ele não olha – continua mijando. Um jato amarelo, fétido, longo.
Quando eles o acertam – quando eles empurram sua cabeça contra o espelho e a carne amassada expele sangue e dor – ele não grita.
Eles o chutam e cospem e esmurram por tempo demais, mas ele não grita.
Suely gritou e chorou e pediu pelo amor de Deus não faz isso não faz pelo amor de Deus não não não faz isso alguém me ajuda – Suely chorando encolhida no chão, nua e cheia de feridas enquanto ele a espancava e comia. Pelo amor de Deus não. E ele apenas sorrindo e dizendo vou comer seu cu e depois de comer seu cu vou te bater mais e mais, apenas ignorando Suely por favor me deixa não faz isso não faz isso.
Agora, Junior ofegante e trêmulo de raiva o chuta de novo e diz:
__ Então, gostou filho da puta? Gostou? O quê? O que você disse?
Ele repete:
__ Diga a Suely.
__ O quê? O QUÊ?
__ Diga a ela que ela foi a melhor foda da minha vida.
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