sexta-feira, 11 de agosto de 2006
Johnny Depp
Sem dúvida, meu ator preferido. Segue abaixo uma reportagem de Amélia Castilha, ao jornal El País.
O tesouro de Johnny Depp
Ele admira a geração beat e adora Marlon Brando, mas o rebelde de Hollywood ganha US$ 20 milhões por filme, como o último "Piratas do Caribe"
Ele costuma brincar com bonecas Barbie com sua filha Lily-Rose. Johnny Depp (nascido em Owensboro, Kentucky, em 1963) às vezes finge sotaques estranhos e comprova a reação da menina. Se seu rosto se iluminar como se perguntasse de onde vem essa voz, a coisa funciona.
Não há público mais sincero que as crianças", afirma o ator, que ensaiou assim duas de suas melhores interpretações no cinema: a voz de Willy Wonka para "A Fantástica Fábrica de Chocolate" e a do capitão pirata Jack Sparrow, protagonista dos dois episódios de "Piratas do Caribe". O último, "O Baú da Morte", já teve um notável sucesso de bilheteria, arrecadando até agora cerca de US$ 800 milhões.
Aos 43 anos, Depp transformou-se em um dos atores mais comerciais do momento. Em "Johnny Depp, um Rebelde Moderno (Ma non troppo)", sua biografia escrita pelo jornalista Brian J. Robb, o ator revela como surgiu em sua cabeça o personagem do capitão Jack, baseado em uma atração de um parque temático da Disney.
No mundo de hoje quem seriam os piratas do século 18? A resposta do protagonista de "Em Busca da Terra do Nunca" não poderia ser outra senão "as estrelas do rock", e seguindo esse discurso quem é a maior estrela do rock?... "Keith Richards, dos Rolling Stones. De modo que decidi modelar meu personagem à imagem e semelhança de Richards." A admiração pelo guitarrista o levou ao extremo de sugerir que o músico se transforme em seu pai no terceiro episódio de "Piratas do Caribe", que estreará no ano que vem.
E não é por acaso, já que Depp começou no mundo do cinema por casualidade.
Do que ele realmente gostava e continua a atraí-lo é a música. De seu avô materno, um indígena cherokee puro, herdou as maçãs salientes do rosto que há anos ilustra as revistas. Como muitos jovens de sua geração, seus anos de adolescência foram marcados pelo sexo, as drogas e o rock and roll.
"Comecei a fumar aos 12, perdi a virgindade aos 13 e aos 14 já tinha provado todo tipo de droga", afirma na biografia de Robb, para depois acrescentar: "Certamente tive minhas experiências com as drogas. Mas afinal você sabe para onde elas levam, e então as abandona". Seu interesse pela música também deve ser buscado em suas origens. Depp tinha um tio pregador que contava com seu próprio conjunto de gospel. "Ele se levantava e marcava o ritmo do púlpito, com as mãos levantadas e gritando: 'Vamos, elevem-se e encontrarão a salvação', e as pessoas se prostravam aos pés dele, adorando-o como se fosse um ídolo."
Assim, com a idéia de seguir seus passos e se transformar em guitarrista, deixou os estúdios e mergulhou na carreira musical com a banda de rock The Kids, uma mistura de U2 e Sex Pistols com a qual chegou a atuar na abertura de shows dos B52s e Talking Heads. Mas a música não dava para viver: vendia canetas por telefone até que o ator Nicolas Cage sugeriu que tentasse a sorte no mundo da interpretação e o pôs em contato com seu agente.
Em conseqüência dessa pequena ajuda, Depp conseguiu seu primeiro papel em "A Hora do Pesadelo", dirigido por Wes Craven. "Tinha um carisma tranqüilo", confirmou o diretor. "Em certo sentido exercia uma atração parecida com a de James Dean. Sua personalidade era muito poderosa e ao mesmo tempo sutil. Minha filha adolescente e suas amigas assistiram aos testes e todas apostaram em Depp sem duvidar. Seu atrativo sexual entre as mulheres é inegável."
E foi assim ao longo de sua extensa carreira. Em 1988, os leitores da "Rolling Stone" o elegeram um dos rostos mais desejados do ano e um dos solteiros mais sexies dos EUA. Em 2005 seu nome brilhou entre os dez primeiros da lista de celebridades publicada pela revista "Forbes", entre o diretor Steven Spielberg e a cantora Madonna.
Mas chegar a se transformar em um dos atores mais importantes de sua geração não foi fácil, especialmente quando, como no caso dele, se decide seguir um caminho alternativo para fazer carreira em Hollywood.
Foi contratado para "Platoon", o filme de Oliver Stone, e sua interpretação o obrigou a passar dez semanas na selva, mas seu trabalho ficou praticamente fora do filme.
Seu primeiro contato com a fama veio depois, com "Novos Policiais", uma série para a TV que o projetou como ídolo juvenil e da qual acabou mais que cansado. Na verdade, o ator sonhava e continua sonhando em estrelar uma versão cinematográfica do livro "On the Road", de Jack Kerouac, mas a realidade frustrou constantemente esse projeto. Do mundo das produções de massa foi resgatado por Tim Burton e seu "Edward Mãos de Tesoura".
"Ele me obrigou a experimentar, aprender e exorcizar algo dentro de mim", acrescentou, referindo-se a seu personagem. Esse não foi o único papel atormentado que cruzou sua carreira. "Benny e Joon: Corações em Conflito" e "Gilbert Grape, Aprendiz de Sonhador", com Leonardo DiCaprio e Juliette Lewis, acabaram por colocá-lo em outro estereótipo.
Seu comportamento na tela era impecável, mas a crítica o acusava de repetir uma interpretação que conhecia de sobra.
"Esse ator poderia se transformar no novo Tom Cruise, não fosse por sua insistência em escolher personagens não-comerciais", escreveu um crítico do jornal "The Sunday Telegraph". A verdade é que o ator parecia se sentir muito à vontade nesses papéis. "Detesto os personagens óbvios, sinceramente não me interessam", acrescenta no livro de Robb. Alheio às críticas, prosseguiu sua carreira movido por seu instinto. Realizou "Arizona Dream - Um Sonho Americano" com Emir Kusturica, um diretor nascido em Sarajevo com o qual teve total empatia.
"Emir e Johnny se vestiam de preto e os dois passeavam com livros de Dostoievski e de Kerouac embaixo do braço. Além disso, impediam que o resto da equipe dormisse à noite porque passavam o tempo todo bebendo e escutando música em um volume ensurdecedor", contou na época o amigo do ator Vincent Gallo.
Sua estrela se viu sombreada em uma sociedade tão conservadora quanto a americana, no final de 1993, quando River Phoenix, um ator que estava prestes a se transformar no ícone de uma geração, perdeu a vida na porta do Viper Room, um clube situado na famosa Sunset Strip de Los Angeles, propriedade de Depp e do astro do rock Chuck E. Weiss. Alguns veículos da mídia o acusaram de ter contribuído para a desgraça de Phoenix, por administrar um lugar onde se permitia o consumo de drogas, mas Depp não quis entrar em polêmicas, embora seus confrontos com a imprensa sensacionalista sejam bem conhecidos.
Ele estava ali naquela noite: "Diante de tamanha barbaridade, reagi abruptamente. Me nego a fazer parte desse circo mórbido protagonizado por perseguidores de ambulâncias. Que se f...!" Meses depois soube-se que ele saía com a modelo londrina Kate Moss, com a qual manteve um longo romance, interrompido pela negativa da modelo de interromper sua carreira para ter filhos.
"É um homem selvagem", admitiu Moss. "Mas selvagem no melhor sentido da palavra, e não pretendo domesticá-lo. Johnny é um romântico empedernido. Uma vez me disse que tinha algo na b..., mas não sabia o que era. Enfiei a mão em suas calças e tirei um colar (de diamantes avaliado em 10 mil libras)."
A dupla, que protagonizou em Nova York uma aventura num hotel que acabou com o ator algemado e um quarto destruído, acabou rompendo diante da negativa da modelo a se comprometer. Não foi a única. Entre suas namoradas conhecidas também está Winona Rider, embora desde que conheceu em Paris a cantora Vanessa Paradis, durante a filmagem de "O Último Portal", de Polanski, sua vida mudou radicalmente. Tem dois filhos - Lily-Rose e Jack - e vive entre Paris e Los Angeles, onde comprou a mansão de Bela Lugosi. E continua escolhendo os papéis guiado por seu instinto.
Amelia Castilla
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Jornal El Pais
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