Renato Russo foi um caso impar no Brasil. A legião de fãs não pára de crescer.
Veja a seguir uma entrevista concedida à Folha:
Folha - Qual seu disco favorito da Legião Urbana?
Renato Russo - O "V", que eu acho o disco mais difícil. Gosto muito de "O Descobrimento do Brasil". Agora, que encontrei a programação dos 12 passos -parei de beber e de me drogar-, tudo está mais tranquilo. Esse show de hoje, por exemplo: o som estava um caos, tudo estava um horror, e o público, superlegal. O lugar tinha uma reverberação brutal. O público berrava muito, e o engenheiro de som teve de aumentar tudo, desequilibrou. No começo era só "bum-bum-bum" e eu berrando, não dava para ouvir os detalhes. Mas, se fosse em outra época, eu teria ficado tão preocupado que ia beber, tomar um porre, falar: "Nunca mais vou fazer show", nhem-nhem-nhem... Isso agora não existe mais. Há uma tranquilidade, uma serenidade que esse disco trouxe, e acho que as músicas refletem isso.
Folha - Como foi sair dessa fase?
Folha - Como foi sair dessa fase?
Renato Russo - Eu estava me destruindo e, em vez de me matar com um tiro na cabeça, preferi procurar ajuda. Isso vem desde os 17 anos, mas no "V" foi a primeira vez que coloquei na música essas questões. "Montanha Mágica" é sobre isso. Eu era jovem e acabei entrando num beco sem saída.Isso foi me consumindo, eu ficava deprimido e não sabia o porquê. Achava que o mundo era horrível, igualzinho ao Kurt Cobain, nada mais valia a pena. E isso é estranho porque, se eu achar um dia que as coisas não valham a pena, quero estar com a cabeça no lugar, e não com o corpo cheio de toxinas. Parei com todo tipo de droga e vi que as coisas não eram tão ruins.
Folha - Isso se refletia na sonoridade da banda?
Folha - Isso se refletia na sonoridade da banda?
Russo - Isso a gente decide. Todo disco a gente tenta fazer uma coisa diferente, até porque é mais divertido. E para não ficar na obrigação de repetir o mesmo trabalho. Não achávamos que o "Quatro Estações" fosse estourar, porque é um disco bem difícil, mas todo mundo gostou. As letras são complicadíssimas e não é tão pra cima quanto acham. É tão depressivo quanto o "V".Tentamos fazer músicas mais pra cima porque era natural, mas não ficava bom. "O Descobrimento do Brasil" não é um disco pra cima, é como o "Power, Corruption and Lies", do New Order. É a coisa mais gloriosa do mundo, mas, se prestar atenção, é pesado.
Folha - Como o "Quatro Estações"...
Folha - Como o "Quatro Estações"...
Russo - No geral, as pessoas acharam que aquilo foi a coisa mais alegre que já foi feita. Enquanto o "V", não. A gente tentou fazer uma música alegre pelo menos, de tudo quanto foi jeito, e não saía. "Vento no Litoral" só tocou porque tem uma melodia bonita. Acho "Metal contra as Nuvens" uma música superacessível. O problema é que o disco falava de coisas que as pessoas não estavam querendo ouvir na hora. Foi quando estourou a axé music, a gente veio na contramão. Mas o disco tem as melhores letras, de longe. Consegui falar tudo o que eu queria. Mas as pessoas não queriam ouvir aquilo. Por exemplo, "Metal contra as Nuvens" é uma música sobre o Collor, mas nunca ninguém falou sobre isso.
Folha - Como você vê a crítica?
Folha - Como você vê a crítica?
Russo - Eles usam os motivos errados. Eu não sou o dono da verdade, mas, para mim, o que motiva esses caras é um rancor e uma incompreensão do que é o nosso país e de como as coisas funcionam. Existem iniciativas maravilhosas no Brasil e a gente não sabe. Aí a gente fica oprimido, achando que tudo não presta, que tudo é horrível. Gostaria de poder apresentar um bom trabalho para as pessoas que gostam da gente. Acho sacanagem, na posição que a gente está, não tentar se esforçar o máximo para apresentar o melhor que a gente pode fazer.
Folha - E o futuro da Legião?
Russo - Não tenho idéia. Eu não vejo como a gente vai seguir o que está fazendo sem se repetir. Depois de "Perfeição", eu vou escrever o quê? Depois que você fala "vamos celebrar a estupidez humana", o que você vai falar? Então talvez a gente faça uma coisa parecida com o que o The Cure faz, para depois, com o tempo, a gente fazer uma mescla. Ou virar uma banda de trabalho, como o New Order. Eu não quero ficar falando como eu acho tudo horrível como está. Se a gente cansar, a gente pára. Se a gente achar que ainda vale a pena fazer alguma coisa, a gente continua
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