sexta-feira, 31 de outubro de 2008
CAMPANHA FORMULA 1!
Depois de mais de uma década de corridas, o maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos (ainda sem contrato para a próxima temporada) tem a única chance de ser aclamado como herói nacional!!!
RUBINHO, BATE NO HAMILTON!!!
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Velhas Virgens
bonecos e olhos de vidro
Mais tarde, Teda diria a uma amiga que “Não importa o que eu disse a ele naquela noite, era tudo mentira, e o que eu sentia, na verdade, era algo completamente diferente do que o que eu lhe disse”. Ela estava sentada à janela, olhando a noite que se avolumava vindo da borda do mundo e os corvos pousados nos fios dos postes. As luzes acendiam-se devagar e automaticamente ao longo da rua estreita calçada com pedras antigas e uma carruagem branca guiada por dois cavalos também brancos subia a rua em direção ao mar, distante e quieto. Aquela era a tarde depois do enterro dele e parecia a Teda que tudo tinha um odor leve de terra morta pairando sob os outros odores.
A amiga de Teda, Stela, estava sentada na cama, pernas cruzadas, um copo de vinho displicentemente em uma mão; a outra alisava distraída seus cabelos curtos.“Isso são flores murchas, querida. Não adianta chorar por isso”, disse ela. ”Esqueça-o, como esqueceu outros homens. Não acredito que você o amava realmente, nem que mentiu a ele. Isso agora é apenas o pesar falando.”
Stela levantou-se e pegou a garrafa de vinho sobre o criado-mudo e tornou a encher seu copo e depois encheu um para Teda.
“O que você precisa, Teda, é embebedar-se.”
“Não posso. Não quero.” Teda devolveu a taça a Stela e levantou-se e atravessou o quarto e entrou no banheiro. “Vou tomar um banho”, disse, antes de fechar a porta.
“Quer companhia?”, sussurrou Stela., com cuidado para que a outra não a ouvisse. Foi até a janela e ficou observando o dirigível aproximando-se rapidamente feito uma solitária nuvem de tempestade e a sombra enorme do mesmo pairando sobre a cidade, pouco antes de a noite cobrir tudo.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, em um cemitério praticamente em ruínas, com o mato cobrindo tudo e ratos e cachorros se banqueteando de corpos podres em covas rasas, um homem acordava em sua sepultura.
O nome do homem, se é que os mortos têm nome, era Mérimée. E foi gritando e urrando e debatendo-se que ele conseguiu rasgar a madeira fina e cavar para cima na terra úmida e cheia de vermes até a superfície, que o saudou com uma cusparada fria em seu rosto branco e seu corpo nu e cheio de marcas e costuras. Era como se ele tivesse passado por uma série de cirurgias pelas mãos de um cirurgião apressado. Ele contorceu-se sobre a terra e levantou-se sobre a terra e cambaleou para fora do cemitério.
Mérimée apoiou-se no portão enferrujado e foi imediatamente visto por uma mulher muito maquiada e usando uma roupa muito curta, que deu um gritinho de espanto mas que estranhamente não correu. Pelo contrário, passado o susto, ela ficou parada onde estava, sob um poste, observando-o curiosa.
“Ajude-me por favor ajude-me”, ele disse ou pensou ter dito. Não tinha certeza. Estava fraco demais, ainda em choque, e sentiu as pernas falharem com um estalo que lhe pareceu mecânico. Como a engrenagem de um relógio falhando.
Teda saia do banheiro, apenas com uma toalha, seus cabelos claros escuros pela umidade, levemente mais animada, quando o telefone tocou.
Stela atendeu. “Sim… sim, ela está aqui… claro… onde?” Ela desligou o fone e disse a Teda “Era a bruxa, ela disse que outro apareceu. Ele foi levado para a sede”.
Teda largou a toalha e abriu o guarda-roupa. Ela vestiu-se depressa demais para o desgosto (insuspeito) de Stela. Logo, ambas entravam no carro de Teda, um modelo de capota aberta típico dos anos 20, e corriam pelas ruas à toda velocidade. Teda usava óculos de aviador, o que fazia seu belo rosto parecer mais frio do que realmente era.
“Veja aquilo”, disse Teda.
Uma garotinha segurando borboletas presas por fios quase invisíveis. Estava parada na calçada e olhava sorridente para o céu sem nuvens. Era como uma pequena fada perdida em um bosque idílico.
Então, Teda parou o carro diante de um prédio de oito andares, com gárgulas espiando de seu teto arcaico. Era a sede da estranha e antiga organização à qual Teda e Stela pertenciam. Teda vestiu luvas de couro e tentou ignorar o tremor que sentia. Era uma sensação de algo ruim. Algo à espreita. Talvez não fosse nada. Talvez.
“Stela”, disse ela. “Espere aqui. E deixe o motor ligado.”
“Algo errado?”
“Talvez não seja nada”, respondeu Teda, e pegou sua velha pistola alemã. Ela subiu os degraus e empurrou a porta.
Stela viu-a desaparecer dentro do prédio e virou-se para olhar a garotinha das borboletas. Esta estava atravessando a rua e agora olhava sorridente para Stela. A garotinha chegou até perto da janela de Stela e perguntou “Quer comprar uma borboleta?” com uma vozinha que soou aos ouvidos de Stela como um falsete.
Teda viu o homem muito magro e muito alto sentado atrás de uma mesa na portaria e sorriu. “Como vai, Chesterton?”
“Bem, senhorita Teda. Obrigado por perguntar. E a senhorita? Soube de sua perda. Sinto.”
“Obrigada. A Brux… digo, pode avisar à senhora Atwood que estou aqui?”
“Claro. E… senhorita Teda?” Chesterton fez um gesto para a pistola.
Teda assentiu e guardou-a. “Desculpe. Tenho andado meio paranóica.”
Chesterton falou ao telefone. “A senhorita Teda já chegou… Pode descer, senhorita. A senhora Atwood a espera no necrotério.”
Teda desceu por uma escada circular de metal que rangia e balançava levemente a cada passo seu. O necrotério ficava no fim da escada, um lugar de luzes brancas e odor hospitalar.
Atwood – uma mulher baixa e gorda – estava parada ao lado de uma mesa de metal, quase mais alta que ela, onde estava amarrado e amordaçado Mérimée.
“Mais um para nossa coleção”, disse Atwood.
“Vá se foder, sua bruxa”, gritou Mérimée.
”Sempre, querido”, respondeu Atwood. E para Teda: “Ele foi encontrado vagando próximo ao cemitério de Santa Clara, um lugar decrépito e abandonado. Parece que nosso amigo, o falecido Dr. Belasco, tinha outros lugares que não conhecíamos para depositar suas criaturas”.
Teda aproximou-se o suficiente para ver a barriga escancarada de Mérmée e as engrenagens em seu interior – metal e engrenagens e porcas e parafusos e mecanismos estranhos.
“Oh, deuses”, murmurou Mérimée, “o que eu sou?”
Uma espécie de máquina, pensou Teda.
“O que vão fazer comigo?”
Atwood ignorou-o e disse a Teda “Isso tem que acabar. Precisamos encontrar o laboratório do seu falecido namorado”.
“Eu sei.”
“Alguma idéia?”
“Não. E quanto a ele?”
“Ele mal se lembra do próprio nome. Não é de grande ajuda. Vamos desmontá-lo.”
Como se essas palavras fossem um sinal, dois homens carregando ferramentas entraram na sala. Nenhum deles disse nada. Atwood pegou no braço de Teda e ambas saíram de lá e subiram as escadas. Foi quando ouviram os gritos.
Lá fora, pouco antes, Stela sorriu para a garotinha das borboletas e perguntou: “E quanto custa uma borboleta?”
“Para você, sua PUTA, nadinha.”
Stela mal teve tempo de sentir surpresa. De repente as borboletas entraram aos montes dentro do carro e suas azas eram afiadas como lâminas. São lâminas, sua estúpida, pensou ela, essas borboletas não são reais, são máquinas. Eram como uma pequena nuvem brilhante que cortava sua pele e sua carne. A garotinha, parada ao lado do carro, começou a rir e rir e rir. Stela gritava. Então, alguém atirou.
Stela viu através do sangue que cobria seus olhos a cabeça da garotinha explodir e engrenagens e fios e um uivo estranho como o de um carro falhando saírem da garotinha das borboletas.
Teda abriu a porta e puxou Stela com força para fora do carro. As borboletas a seguiram e Teda agarrava-as com as mãos e tentava esmagá-las e chutá-las para longe. Então, Stela não viu mais nada.
Quando acordou, estava em um quarto de hospital, deitada na cama de metal. “Quero um espelho”, disse a Teda, que estava sentada ao lado da cama, as mãos enfaixadas e uma expressão de pesar no rosto.
“Ainda não”, disse Teda.
Stela viu a expressão nos olhos de Teda e assentiu. “Quando, então?”
“Logo.”
“Está bem.”
“As criaturas continuam a aparecer”, disse Teda. “É como se fosse uma verdadeira multidão de máquinas em forma humana, um povo hostil sepultado e programado para se erguer assim que seu criador morresse. Atwood ordenou a todos que os matássemos.”
“Isso te incomoda?”
“Não. Sim. Não sei. Sim, me incomoda. Parece que estamos dizimando um povo inteiro.”
“Exceto que eles não são humanos. Nem animais.”
“Mas – eles pensam, não é?”
“Não faça isso”, disse Stela, balançando a cabeça. “Não.”
“Aquele no necrotério, você não o viu. Ele não parecia hostil, parecia apenas... confuso.”
“E o que você vai fazer?”
“Conversar com ele. Se ele ainda existir.”
Mérimée estava estirado sobre a mesa de metal e os homens que haviam vindo para desmontá-lo estavam estirados, aos pedaços, pela sala toda; pedaços de carne e sangue espalhados por todo o lugar. Mérimée levantou-se e arrastou os pés no sangue que cobria o chão, deixando pegadas leves ao andar.
Chesterton estava sentado ao pé da escada, esperando-o, uma cimitarra em uma das mãos. A cimitarra estava coberta de sangue e Mérimée compreendeu que aquele homem fora quem o salvara.
“Por quê?” perguntou Mérimée.
Chesterton sorriu. “Sou como você. Uma máquina. Embora não soubesse disse até recentemente.”
CONTINUA
terça-feira, 28 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
DICA
Clique na imagem e escolha o estilo de música que quer ouvir.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
terça-feira, 21 de outubro de 2008
COMO PEDIR PIZZA DAQUI ALGUNS ANOS!
* Cliente: Boa noite! Quero encomendar pizzas...
* Telefonista: Pode me dar o seu NIDN?
* Cliente: Sim, o meu número de identificação nacional é 6102-1993-8456- 54632107.
* Telefonista: Obrigada, Sr.Lacerda. Seu endereço é Avenida Paes de Barros, 1988 ap. 02 B, e o número de seu telefone é 5494-2366, certo? O telefone do seu escritório da Lincoln Seguros é o 5745-2302 e o seu celular é 9266-2566.
* Cliente: Como você conseguiu essas informações todas?
* Telefonista: Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.
* Cliente: Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas, uma de quatro queijos e outra de calabresa...
* Telefonista: Talvez não seja uma boa idéia...
* Cliente: O quê?
* Telefonista: Consta na sua ficha médica que o Senhor sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a sua saúde.
* Cliente: É você tem razão! O que você sugere?
* Telefonista: Por que o Senhor não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e rabanetes? O Senhor vai adorar!
* Cliente: Como é que você sabe que vou adorar?
* Telefonista: O Senhor consultou o site 'Recettes Gourmandes au Soja' da Biblioteca Municipal,dia 15 de janeiro, às 4h27minh, onde permaneceu conectado à rede durante 39 minutos. Daí a minha sugestão...
* Cliente: OK está bem! Mande-me duas pizzas tamanho família!
* Telefonista: É a escolha certa para o Senhor, sua esposa e seus 4 filhos, pode ter certeza.
* Cliente: Quanto é?
* Telefonista: São R$ 49,99.
* Cliente: Você quer o número do meu cartão de crédito?
* Telefonista: Lamento, mas o Senhor vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão de crédito já foi ultrapassado.
* Cliente: Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco sacar dinheiro antes que chegue a pizza.
* Telefonista: Duvido que consiga! O Senhor está com o saldo negativo no banco.
* Cliente: Meta-se com a sua vida! Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?
* Telefonista: Estamos um pouco atrasados, serão entregues em 45 minutos.. Se o Senhor estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que transportar duas pizzas na moto não é aconselhável, além de ser perigoso...
* Cliente: Mas que história é essa, como é que você sabe que eu vou de moto?
* Telefonista: Peço desculpas, mas reparei aqui que o Sr. não pagou as últimas prestações do carro e ele foi penhorado.. Mas a sua moto está paga, e então pensei que fosse utilizá-la.
* Cliente: @#%/§@&?#>§/%#!!!!!!!!! !!!!
* Telefonista: Gostaria de pedir ao Senhor para não me insultar... Não se esqueça de que o Senhor já foi condenado em Julho de 2006 por desacato em público a um Agente Regional.
* Cliente: (Silêncio)
* Telefonista: Mais alguma coisa?
* Cliente: Não, é só isso... Não, espere... Não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que constam na promoção.
* Telefonista: Senhor, o regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo 3095423/12, nos proíbe de vender bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...
* Cliente: Aaaaaaaahhhhhhhh! !!!!!!!!! Vou me atirar pela janela!!!!!
Conjugador de verbos para a língua portuguesa.
Pior que isso era ter que decorar tabuada para aqueles testes orais.
http://linguistica.insite.com.br/cgi-bin/conjugue
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Boicote
domingo, 19 de outubro de 2008
bIdIsHa
De uma coisa eu sei: o sangue coagulado que escorria do olho direito de Bidisha, o esperma que secara no canto de sua boca, os pêlos pubianos e escuros nas palmas de suas mãos enrijecidas como garras e a úmidade entre suas pernas entreabertas – tudo aquilo contribuia para formar uma imagem que era como um quadro expressionista ou surrealista ou algo desse tipo. As molduras eram o altar empoeirado e o Cristo sem cabeça e crucificado.
Estávamos, eu e ela, em uma igreja abandonada em algum lugar de uma cidadezinha fétida em um desses cus de mundo que o resto da humanidade não se importou em esquecer.
Bidisha linda e morta.
Eu estava agachado a mais ou menos um metro, sem conseguir despregar os olhos dela, tentando esconder o tremor de minhas mãos enfiando-as nos bolsos da minha jaqueta surrada. No bolso esquerdo eu segurava o celular de Bidisha que começara a tocar de-repente uma música de Norah Jones. No bolso direito eu segurava minha arma.
Eu podia ouvir os passos arrastados às minhas costas, porém não conseguira coragem suficente ainda para olhar.
Não muito tempo antes, Bidisha havia se sentado na cama do hotel, o lençol mal cobrindo sua nudez, e sorrido para mim. O caso não vai levar mais que um fim de semana, ela disse, enquanto se levantava e ia até a porta do banheiro, ainda com o lençol. Ela sempre se tornava púdica depois do sexo. Felismente era exatamente o contrário enquanto trepávamos.
Ela continuou, é apenas uma velha igreja no fim do mundo que o Vaticano não conseguiu exorcisar, nada demais, algum pequeno demonio que teima em assombrar o lugar.
Demonios?
Um pequeno, nada demais. Eu preciso saber agora. Você vai?
Eu disse, claro, não tenho nada para fazer mesmo.
É bom exclarecer que eu e Bidisha não éramos amantes, apenas amigos que ocasionalmente dormiamos juntos. Não que no começo, quando a conheci, eu não tivesse me apaixonado desesperadamente por ela. Mas isso ficara no passado.
Eu a vi pela primeira vez numa sessão espírita, numa noite quente de outubro, a alguns anos. As velas não davam conta da escuridão, as chamas eram alaranjadas e trêmulas. Havia pelo menos umas dez pessoas ao redor da mesa, não me lembro muito bem delas e isso também não é importante. As pessoas conversavam em voz baixa, como se estivéssemos em um enterro, mas na verdade era quase o oposto. Não estávamos ali para falar com os mortos?
A sessão ainda não iniciara, quando Bidisha se sentou ao meu lado. Lembro-me que me encantei imediatamente por sua beleza indiana, seu sorriso franco, seus olhos suaves e sua boca, que eu descobriria, era suave e saborosa.
Você vai acabar se apaixonando por mim, disse ela, se continuar a me olhar assim. Ela sorria e provavelmente estava de brincadeira, mas suas palavras foram como uma profecia. Na hora, fiquei sem jeito, e não disse nada.
Bidisha, disse ela, estendendo-me a mão.
A mulher gorda (não me lembro seu nome, Madame alguma coisa) que era a dona da casa disse, vamos começar.
Foi a primeira vez que vi um ectoplasma que não fosse em uma filmagem ou uma foto. Ele escorreu da boca de Madame como um lençol fino que , depois de alguns instantes pavorosos, tomou a forma de um garotinho lindo que aproximou a ponta dos dedos e tocou o rosto de Bidisha e não disse nada, não importando quantas perguntas fossem feitas, antes de desaparecer ou se desfazer no ar a nossa frente.
Nossa, que mão fria, disse Bidisha, ainda meio espantada. Demorou um instante para eu entender que ela falava da minha mão. Bidisha virou-se para mim, não foi a coisa mais maravilhosa que você já viu? completou, sorrindo.
Bidisha morta.
O odor de carne era adociado e o ruído do arrastar dentro da igreja imunda era um arrastar que fazia com que eu estremecesse involuntariamente. A voz também era arrastada, como quer a sua morte?
Eu me levantei com alguma dificuldade. A cabeça doía, pontadas finas e em chamas dentro do meu cérebro.
Como quer a sua morte? continuou a voz. Quer algo depravado e excitante como a dela?
Bidisha certa vez me disse que tinha um trabalho para mim em sua agência. Preciso de um guarda-costas. Não é sempre que um exorcismo de uma garotinha ou a limpeza de uma casa assombrada dá certo. Às vezes as amarras se arrebentam, o lustre cai do teto sobre a mesa de jantar.
Por que eu?
Você não se assusta facilmente com essas coisas.
Não, retruquei. Apenas fico louco.
Não falemos sobre isso, disse Bidisha. Ela não gostava de lembrar do tempo que passei no hospício depois de minha possessão por uma deusa pagã.
Na verdade eu também não.
E então?, perguntou Bidisha. Eu pago muito bem.
Eu disse que topava.
Agora, Bidisha está morta e eu finalmente olho para a criatura que a matou. A menina me olha de volta, uma garotinha loira e nua, deve ter uns nove, talvez dez anos, manchas de sangue cobrem seu sexo e seus olhos são suaves. Ela me estende sua mão e diz, Como deseja morrer? Sua voz não é mais arrastada, é clara e límpida e inocente. Por Deus, é apenas uma criança.
Você não é real, eu falo.
Quando chegamos à porta da igrja, apenas a algumas horas, o padre que nos esperava mal falou conosco, entrou em seu carro e saiu rapidamente de lá. A única coisa que ele disse foi, esse lugar deveria ser queimado.
Caia uma gároa fina. Fazia calor e Bidisha não pode deixar de olhar para a igreja com um certo tomar.
Os fatos sobre a igreja são: Igreja de Santa Clara, abandonada a pelos menos uns cinquenta anos, lugar de ocasionais aparições brancas e brilhantes em suas janelas, nada mais, tudo meio assustador mas inofensivo. Ninguém se áproximava. Até que o Vaticano considerou uma afronta que algo que não eles mesmos usassem a velha construção. Dois padres foram enviados, nenhum voltou – não vivo. Os detalhes de suas mortes incluiam fornicação e castração com os dentes. Ambos sangraram pelas cavidades entre as pernas até a morte, não obstante a expressão de prazer em seus rostos em rigor mortis.
A Igreja de Santa Clara ficava – e ainda fica – em uma colina e, de longe, com o sol se pondo atrás dela, era um lugar belo e cheio de luzes que refletiam rubras em seus vitrais. Ao cair da noite, entretanto, as luzes eram de outro tom e fonte.
Bidisha tinha uma agencia que lidava com casos paranormais e era bastante conceituada em seu ramo. Não demorou para que ela fosse chamada para resolver o problema de Santa Clara.
Eu me lembro do cheiro de vinho barato do padre que entrou em nosso escritório, sem bater. Bidisha estava ajoelhada ao meu lado, fazendo um curativo em meu braço (eu me me machucara ao me debater durante a noite anterior, em uma de minhas crises de terror. Flashback psicologico da possessão ou a deusa tentando voltar ao meu corpo, eu e Bidisha ainda não sabíamos). O padre disse, como vão vocês?
Ele não falou nada imediatamente, apenas sentou-se lá e ficou olhando para o sol da manhã que entrava pela janela revelando uma poeira fina que flutuava em pelo lugar todo.
Esperamos.
Ele contou sua história. Bidisha disse quanto. Ele nem exitou, apesar de nosso preço ser mais do que ele arrecadaria em mais de um ano de pregação de regras e castigos infernais. O preço sempre variava de acordo com o cliente.
Quando entramos na igreja, eu sabia que qualquer preço, seria barato demais. Nada havia de terrivel à mostra, apenas poeira e bancos quebrados e um Cristo sem cabeça e vitrais quebrados e uma mancha enorme mas que tanto poderia ser de sangue como de umidade. Havia buracos enormes no teto e podíamos ver nuvens passando lá no alto, lentamente, ainda despejando uma gároa fina. Algumas flores haviam brotado nos cantos e dava para sentir o perfume que exalava delas.
Tudo era muito calmo e até idílico.
Eu ia dizer isso para Bidisha, quando algo me acertou e fui arremessado para fora da igreja. Senti uma pancada forte e lembro de ter pensado, esta é aminha morte, enfim. Então, não pensei mais nada. Bosta de guarda-costas.
Quando acordei, não havia mais gároa nem claridade. Levantei-me e corri para dentro da igreja. E vi Bidisha.
Houve uma época em que eu passava os meus dias babando e minhas noites estremecendo de olhos arregalados numa sala acolchoada em algum hospício de merda. Bidisha vinha me visistar todos os dias e me contava histórias banais como se eu não fosse louco, apenas excêntrico, talvez um pouco avoado. Mais tarde ela confessaria que se nunca desistira de mim fora por puro egoísmo. Nunca entendi muito bem isso. E agora não importa mais.
A garotinha nua me estende a mão. Eu saco a arma e atiro nela. De novo. De novo. E de novo. E. Clic Clic Clic Clic Clic Clic. Mas não adianta. Ela não cai. Eu solto a arma.
Como quer a sua morte? a garotinha pergunta, sorrindo e estendendo a mão.
Você não é uma garotinha, eu falo. Você. Não é. Uma. Garotinha.
Não, diz ela, a voz arrastada novamente, não sou, não é?
Ela gesticula e, às minhas costas, Bidisha se ergue como uma boneca, uma marionete. Seus passos são desajeitados e seus braços se movem em ângulos impossíveis ao som de ossos estalando. Ela começa a rasgar seu vestido e o sangue preto é uma gosma dentro de sua boca. Ela cambaleia em minha direção. Ela cai. Ergue-se novamente. Seu pé se rasga em um prego exposto, mas não há sangue, os mortos não sangram. Eu recuo. Trêmulo.
Ela quer uma última trepada com você, diz a garotinha, novamente com a voz inocente. Ela quer foder com você como eu fodi com ela.
Então, eu corro para cima da garotinha e a acerto com toda força. Eu a derrubo no chão e piso em seu pescoço e ela se debate e o sangue começa a espirrar de sua boca e ela se engasga e, então, ela não se debate mais. Eu ouço Bidisha desabar. E o estalar de madeira. Um ruído alto como o de um trovão. O Cristo sem cabeça desceu do altar e está andando lentamente na direção da garotinha – na minha direção. Cada passo é dado como se ele quisesse alcançar a maior distância em menos tempo. Ele enfia a mão dentro dos panos que cobrem sua nudez e dá para perceber que está muito excitado. Ele pisa sobre uma coxa de Bidisha e a perna dela quase se separa do resto do corpo. Ele continua vindo. Ele me ignora e ergue a garotinha e começa a carrega-la para fora da igreja como uma boneca. Eles saem para fora.
Eu vou atrás e observo quando eles atravessam a estrada e sobem pelo pasto. Eu corro para o carro, abro o porta-malas e pego o galão de gasolina. Então derramo sobre o Cristo decapitado. Ele continua me ignorando, apenas andando em frente. Eu acendo o isqueiro. O fogo lambe a madeira do crucificado e a carne da menina.
Eles continuam andando e depois de muito tempo eu ainda posso vê-los à distância, em chamas, enquanto lá no alto as nuvens tornam a despejar água.
Eu entro na igreja. Nada me resta a fazer a não ser ficar ao lado de Bidisha.
sábado, 18 de outubro de 2008
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Manequim vota?
"Paixão" de Cristo
5 Lições corporativas
Um homem está entrando no chuveiro enquanto sua mulher acaba de sair dele e está se enxugando. A campainha da porta toca. Depois de alguns segundos de discussão para ver quem iria atender a porta a mulher desiste, se enrola na toalha e desce as escadas. Quando ela abre a porta, vê o vizinho Bob em pé na soleira. Antes que ela possa dizer qualquer coisa, Bob diz: "Eu lhe dou 800 reais se você deixar cair esta toalha!!!" Depois de pensar por alguns segundos, a mulher deixa a toalha cair e fica nua. Bob então entrega a ela os 800 reais prometidos e vai embora. Confusa, mas excitada com sua sorte, a mulher se enrola de novo na toalha e volta para o quarto. Quando ela entra no quarto, o marido grita do chuveiro: "Quem era???" "Era o Bob, o vizinho da casa ao lado." - diz ela .. "Ótimo !!! Ele lhe deu os 800 reais que ele estava me devendo ???
Insector Sun
Precisava voltar a postar. Qual o melhor post para minha volta ao naodiganada?
Recebi por email essa "maravilha"! Herói nacional com cara de japonês!! Deixa Spectreman no chinelo.
domingo, 12 de outubro de 2008
SANGUE NU
Enfim, a terra começara a rejeitar os mortos. Corpos putrefatos, inchados de gazes e vermes, coagulados e com rostos carregados de horror e tristeza, brotando como se fossem flores horrendas na terra úmida.
― Pelos deuses ― disse alguém nos portões do cemitério.
Lá dentro, os mortos cambaleavam e gemiam e havia orgia e banquetes; um jovem defunto se esfregava em uma mulher morta, apesar de seu pênis a muito ter caído e ela estar mais interessada em comer uma pequena flor branca que crescera inocentemente na terra nua; alguns mortos se alimentavam de outro, estirado e de entranhas à mostra. Ele gritaria se tivesse língua ou se sentisse dor.
A polícia chegou com lança-chamas e máscaras e mãos trêmulas e os portões foram abertos e a chama lambeu a carne: jatos longos e esganiçados de fogo sobre corpos que se negavam a parar. Não demorou muito. Logo o cemitério era uma enorme fogueira e o cheiro de carne podre e torrada ergueu-se no vento salgado e misturou-se ao sabor do mar.
Da minha janela eu podia ver tanto o mar calmo como a chama inquieta dos mortos; eu podia ouvir os gritos e o horror. Talvez os mortos sentissem dor afinal.
Sentei-me diante da janela e comecei a limpar minha espada; eu a queria perfeita para o duelo do dia seguinte. Aquela era, portanto, a minha última noite em vida. Talvez.
Bateram na porta.
― Entre, seja quem for, eu disse.
― Então é verdade, disse Katerina.
― É, respondi eu. ― É sempre verdade, não importa no que acreditemos.
― Não se faça de engraçado. Não acredito que vá fazer isto, um duelo ao amanhecer. Isso é estupidez.
― Defenderei a sua honra.
― Não seja tolo. Sou prostituta, esqueceu? Sei por que faz isso.
― Não é preciso, no entanto, que o digam como ofensa. Por quê?
― Pelo amor à espada.
― Pode ser. De qualquer modo amanhã poderei estar morto. Não deveria me dar algo mais que uma bronca?
Mas ela já se sentara à cama e começara a despir-se.
― Vou te deixar tão exausto que amanhã desistirá de lutar.
― Você me subestima, disse eu, largando a espada e também deixando minha roupa pelo chão a caminho da cama.
Nua, Katerina abriu suavemente as pernas e então disse:
― Beije-me. Aqui.
Eu vi o morto cambalear lá fora; ouvi seus passos errantes; senti seu odor adocicado; e cortei sua cabeça com um golpe de espada vuuump que a jogou onde ela continuou gemendo. Olhei dentro de casa e vi Katerina dormindo. Encolhida entre as cobertas, sua pela muito branca e seus cabelos muito negros, ela parecia pura como uma virgem, inocente como uma menina. Eu quase a amei naquele instante. Então o sol começou a surgir e seu reflexo tornou o mar um grande espelho onde pairavam as nuvens e a fumaça que ainda se erguia do cemitério na colina. O ronco de um motor. De algum lugar, se aproximava um carro.
― Pois os mortos cavalgam céleres, eu disse e me espantei. Onde ouvira ou vira aquelas palavras?
O carro subiu pela colina e parou diante da casa. Era a hora.
continua
Guardei a espada na bainha e, observando os homens que saltavam do carro, não pude deixar de pensar que aquele não era nem um bom dia ou um mal dia para se morrer, mas simplesmente um dia como qualquer outro. Sempre queremos que nossos dias sejam especiais, mas nunca são. Assim é com o dia de nossa morte. Então, com um sorriso nos lábios para afastar os fantasmas ordinários e as sombras pesadas, aproximei-me e comprimentei a todos.
— Que os deuses os saúdem.
— Há apenas um deus, respondeu meu oponente, aquele a quem chamavam de Duque, com arrogância. Era um homem muito alto e muito forte, de gestos pesados que tentavam disfarçar uma agilidade insuspeita. Um espadachim nato. Os outros dois, homens mais velhos e cultos, metidos em sobretudos pretos, que seriam o juízes do duelo, me olharam com desprezo.
— Se quiser, posso apresentá-lo a alguns outros, disse eu.
— Herege!
Ele sacou a espada. — Não percamos mais tempo, disse ele.
Segui o seu exemplo e nossas lâminas ergueram-se brilhantes e afiadas à procura da carne do oponente; o eco do metal em choque e a dança rápida demais para os olhos de nossos golpes treinados; com um grito ele jogou o peso de sua espada contra a minha. Senti meu corpo estremecer com o impacto; rangi os dentes no que deve ter parecido um sorriso feroz e girei o corpo rapidamente de modo a girar minha espada e parar a lâmina a apenas um milímetro de seu pescoço. foi meu último golpe naquela luta.