Revelações mostram que um acidente como o ocorrido com o Boeing da Gol era um risco iminente no céu do país.
RIO - Pelo menos três desastres aéreos como o do avião da Gol - que matou 154 pessoas no fim de setembro - quase aconteceram este ano, revela reportagem da revista "Época" desta semana. O repórter Walter Nunes teve acesso a relatórios confidenciais do comando da Aeronáutica, que o Fantástico divulgou neste domingo (19) com exclusividade. Os documentos mostram que três incidentes graves ocorreram nos céus brasileiros nos últimos meses. São casos de quase-colisão, em que os aviões não se chocaram por pouco.
O risco de acidente foi classificado como "crítico", que, segundo o manual da Aeronáutica, é quando o choque não ocorreu devido ao acaso ou à ação evasiva de algum dos pilotos.
Segundo um controlador de vôo com mais de 20 anos de experiência, quase-colisões entre aeronaves são comuns no Brasil.
Esses incidentes podem ocorrer em qualquer local, em qualquer área terminal, em qualquer área de centro de controle, em qualquer proximidade com qualquer aeroporto.
Caso 1
Aviões da Varig e da TAM quase se chocam após manobra errada.
O primeiro caso aconteceu em 16 de janeiro, no sudoeste de Curitiba. Um boeing 737 da Varig tinha saído do aeroporto da capital paranaense com destino a Porto Alegre, enquanto um Fokker 100 da TAM viajava de Buenos Aires para Curitiba. No meio do caminho, o TCAS, radar das aeronaves, indicou a aproximação das duas aeronaves. O centro de controle percebeu o problema e instruiu as aeronaves, mas o avião da Varig efetuou uma manobra errada.
O comandante da Varig, em vez de fazer uma curva para a direita, para se distanciar ainda mais do Fokker 100, virou para a esquerda, indo justamente de encontro - disse o controlador de vôo.Os dois jatos passaram muito perto um do outro: menos de mil pés, ou cerca de 300 metros, a distância mínima recomendada no espaço aéreo.
Caso 2:
Apenas 150 metros separou aeronaves no interior de São Paulo
O caso número 2 aconteceu em 19 de maio, na região de Boituva, interior de São Paulo. O comandante Costa pilotava um Cessna 180, carregando um grupo de paraquedistas.''Quando eu voltei, um colega da área falou que o centro de controle de Curitiba tinha recebido uma informação de uma aeronave que estava passando e me viu e falou que passou um pouco perto'', contou o comandante Costa.
A aeronave que estava passando era o vôo 1696 da Gol, que ia de Curitiba para o Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Só que o avião estava num rumo errado, ele passava perto demais do Aeroporto de Boituva.
''Em virtude disso, ela acabou indo para cima dessa aeronave que estava efetuando o lançamento de paraquedista'', completou o controlador de vôo.
Segundo o relatório da Aeronáutica, os dois aviões não se chocaram por muito pouco. Passaram a apenas 150 metros um do outro.
Caso 3:
Piloto descreve susto com o vulto de um avião
O caso número 3 aconteceu em 30 de junho. O MD-11 da Varig, que ia para o Aeroporto de Cumbica, em São Paulo, levantou vôo de uma das pistas. Outro avião se preparava para pousar em outra pista. Por segurança, o controle de aproximação de Manaus pediu ao MD-11 que fizesse uma curva à direita após a decolagem. O avião seguiu a ordem. Logo depois, o comando mandou a aeronave regressar à rota original. Só que o controlador não percebeu que havia outro avião levantando vôo.
O avião, que partia do Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus, era um Brasília da Força Aérea Brasileira. Os dois aviões quase bateram no ar. Um dos pilotos do MD-11 escreveu mais tarde um e-mail para o setor da Varig responsável por segurança aérea. O assunto do e-mail: risco de colisão.
No documento, o piloto diz que foi "surpreendido por um vulto no pára-brisa dianteiro. Era um avião Embraer 120, o popular Brasília". O e-mail continua: "A aeronave passou, com toda a certeza, a menos de 50 metros da nossa. Conseqüência: um tremendo susto, risco enorme de colisão e um silêncio na freqüência". "Silêncio na freqüência" quer dizer que o piloto não foi alertado pelo rádio da torre de controle sobre o risco de colisão.
''É um relato bastante preocupante, porque, numa situação como aquela, em que o piloto está muito preocupado com a parte dos instrumentos da aeronave, porque ele está iniciando um procedimento de decolagem, iniciando um procedimento de subida, é um momento em que ele não está com a atenção voltada para fora da cabine. E quando ele viu o vulto da aeronave passar à direita, ele ficou bastante assustado. Para nós, que somos controladores de tráfego aéreo, o susto ocorre também, embora nós não estejamos voando, estejamos aqui em terra'', comentou o controlador de vôo.
Fonte: Globo.com
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