No country for old men
Atualizado:
“Um romance que entretém, de um dos melhores escritores americanos. McCarthy é um grande contador de histórias.” –The Washington Post
“Como os romancistas que admira – Melville, Dostoiévski, Faulkner –, Cormac McCarthy criou uma obra de imaginação maior e mais profunda do que qualquer livro. Tais autores lutam corpo a corpo com os próprios deuses.” – Michael Dirda, The Washington Post Book World
“Este livro te deixará sem fôlego e perplexo.” – Sam Shepard
Escritor elogiado pela crítica, com os prêmios Faulkner Award, National Book Award e National Book Critics Circle Award no currículo, Cormac McCarthy apresenta em Onde os Velhos Não Têm Vez um “faroeste sem compaixão”, que lembra os filmes de Quentin Tarantino, como bem comparou o jornal The New York Times. O livro mistura ação, suspense e violência numa prosa ágil e enxuta.
Ambientado nos anos 80, na fronteira do Texas com o México, a trama tem três personagens centrais: Llwelyn Moss, um caçador que acidentalmente encontra um carro com corpos crivados de bala, um carregamento de heroína e mais de dois milhões de dólares abandonados no meio do deserto; o xerife Bell, encarregado de investigar o caso; e o psicopata Anton Chigurh, contratado por um cartel para reaver o dinheiro.
Quando decide pegar o dinheiro e fugir, Moss passa de caçador a caça. A narrativa se transforma, então, em uma eletrizante história de suspense e perseguição, em que cada personagem parece determinado a encontrar a resposta à pergunta que um deles faz: como se decide o que sacrificar na vida?
Cormac McCarthy conta a história em duas vozes narrativas distintas. A maior parte do texto é narrada em terceira pessoa, intercalada com as reminiscências do xerife Bell, em primeira pessoa. O personagem é porta-voz das reflexões de McCarthy sobre temas sempre presentes em sua obra, como niilismo e existencialismo. O xerife vocifera sobre como o país muda para pior, fala das pessoas que não têm mais boas maneiras, do aumento de crimes horríveis e de como ninguém "respeita mais a lei". Para a revista Publishers Weekly, “a ação do romance é arrebatadora, mas é a sabedoria do xerife Bell que faz do livro uma meditação profunda sobre a batalha do bem e do mal”.
O filme deve estrear no Brasil em 2007.
SOBRE O AUTOR
O escritor nasceu em 1933, na cidade de Province, em Rhode Island, Estados Unidos. Filho de um advogado bem-sucedido, McCarthy foi o terceiro de seis irmãos. Em 1951, matriculou-se no curso de artes liberais da Universidade do Tennessee. Alistou-se na Força Aérea americana em 1953 e serviu durante quatro anos, dos quais dois foram passados no Alasca, onde ele apresentou um programa de rádio. De volta à universidade em 1957, McCarthy publicou dois contos em um jornal de estudantes, sendo agraciado com o prêmio Ingram-Merril em 1959 e 1960.
Em 1961, casou-se com sua colega de universidade Lee Hollean, com quem teve um filho, Cullen. McCarthy decidiu abandonar os estudos e partir com a família para Chicago, onde escreveu seu primeiro romance, The Orchard Keeper, publicado pela Random House em 1965. O autor conta que enviou o manuscrito para a editora porque “era a única de que já tinha ouvido falar”. Na Random House, seu romance caiu nas mãos de Albert Erskine, que havia sido editor de William Faulkner e acabaria trabalhando com McCarthy pelos vinte anos seguintes.
The Orchard Keeper recebeu o Faulkner Award. Em 1992, McCarthy publicou Todos os Belos Cavalos, primeiro volume de sua extraordinária Trilogia da Fronteira, seguido de A Travessia (1994) e Cidades da Planície (1998). Todos os Belos Cavalos recebeu dois dos prêmios literários mais importantes dos Estados Unidos – o National Book Award e o National Book Critics Circle Award – e deu origem a um filme com Matt Damon e Penélope Cruz.
McCarthy leva uma vida extremamente reservada e raramente concede entrevistas. Atualmente, dedica boa parte de seu tempo à comunidade acadêmica de Santa Fé, no Novo México, onde vive. É casado com Jennifer e tem dois filhos.
Um Trecho de:
No country for old men
(Onde os Velhos Não Têm Vez)
Mandei um garoto para a câmara de gás em Huntsville. Foi só um. Eu prendi e testemunhei contra ele. Fui até lá conversar com ele duas ou três vezes. Três vezes. A última foi no dia da execução. Eu não tinha que ir, mas fui. Claro que não queria ir. Ele tinha matado uma garota de catorze anos e posso te dizer hoje que nunca tive muita vontade de conversar com ele, muito menos de ir à sua execução, mas fui. Os jornais diziam que tinha sido um crime passional e ele me disse que não havia paixão nenhuma naquilo. Andava saindo com essa garota, mesmo tão jovem como ela era. Ele tinha dezenove. E me disse que estava planejando matar alguém desde quando era capaz de se lembrar. Disse que se o soltassem ia fazer de novo. Disse que sabia que ia para o inferno. Disse isso para mim com sua própria boca. Não sei o que pensar disso. Não sei mesmo. Achei que nunca tinha visto uma pessoa assim e fiquei me perguntando se ele seria de uma nova espécie. Fiquei observando enquanto amarravam ele no assento e fechavam a porta. Ele talvez parecesse um pouco nervoso, mas era tudo. Eu realmente acredito que ele sabia que estaria no inferno dentro de quinze minutos. Acredito nisso. E já pensei um bocado a respeito. Não era difícil conversar com ele. Me chamava de Xerife. Mas eu não sabia o que dizer a ele. O que você diz a um cara que, segundo ele mesmo, não tem alma? Por que você diria alguma coisa? Pensei bastante sobre isso. Mas ele não era nada comparado ao que viria pela frente.
Dizem que os olhos são a janela da alma. Não sei para onde aquelas janelas davam e acho que preferiria nem saber. Mas há uma outra visão do mundo lá fora e outros olhos para enxergarem essa visão e é aí que estou querendo chegar. Me trouxe a um lugar na minha vida com que eu não teria sonhado. Em algum lugar lá fora há um profeta da destruição vivo e verdadeiro e eu não quero confrontá-lo. Sei que ele é real. Já vi sua obra. Caminhei diante desses olhos uma vez. Não vou fazer isso de novo. Não vou me arriscar a me levantar e ir lá me encontrar com ele. Não é só por ser mais velho. Queria que fosse por isso. Não posso dizer nem que seja pelo que se está disposto a fazer. Porque eu sempre soube que você tem que estar disposto a morrer se quer fazer esse trabalho, para começo de conversa. Isso sempre foi a verdade. Não é para me gabar, mas é o que é. Se não estiver disposto, eles vão saber. Vão ver isso num piscar de olhos. Acho que se trata mais daquilo que você está disposto a se tornar. E acho que um homem teria que colocar sua alma a prêmio. E eu não vou fazer isso. Acho agora que talvez nunca viesse a fazer.
O subdelegado deixou Chigurh de pé no canto do escritório com as mãos algemadas nas costas enquanto se sentava na cadeira giratória e tirava o chapéu e colocava os pés para cima e ligava para Lamar pelo rádio.
Ele simplesmente entrou pela porta. Xerife ele levava um troço no corpo como um desses tanques de oxigênio para enfisema ou sei lá o quê. Mas tinha uma mangueira que descia pela parte de dentro da manga e levava até um daqueles aparelhos de dar choque como os que usam no matadouro. Sim senhor. Bem era isso o que parecia. Pode ver quando chegar.
Sim senhor. Está tudo sob controle. Sim senhor.
Quando ele se levantou da cadeira puxou as chaves que estavam presas ao cinto e abriu a gaveta da escrivaninha para pegar as chaves da cela. Estava ligeiramente curvado quando Chigurh se agachou e passou rapidamente as mãos algemadas por baixo dele até a parte de trás dos joelhos. No mesmo movimento sentou-se e rolou para a frente e passou a corrente por baixo dos pés e então se pôs de pé no mesmo instante e sem esforço algum. Se parecia algo que ele tivesse feito muitas vezes, foi mesmo. Passou as mãos algemadas por cima da cabeça do subdelegado e deu um salto no ar e jogou os dois joelhos contra a nuca do subdelegado e puxou de volta a corrente.
Caíram no chão. O subdelegado tentava passar as mãos por dentro da corrente, mas não conseguia. Chigurh não parava de puxar as algemas com os joelhos entre seus braços e a cabeça virada para fora. O subdelegado desferia golpes para todo lado e tinha começado a girar sobre o chão num círculo, chutando a lata de lixo, chutando a cadeira para o outro lado da sala. Com um chute fechou a porta e embolou o tapete ao redor deles. Sua boca gorgolejava e sangrava. Estava engasgando com seu próprio sangue. Chigurh só fez puxar com mais força. As algemas niqueladas chegaram ao osso. A carótida direita do subdelegado arrebentou e um jato de sangue esguichou pela sala e atingiu a parede e escorreu por ela.
O movimento das pernas do subdelegado ficou mais lento e depois cessou. Ele foi sacudido por espasmos. Então parou de se mexer por completo. Chigurh ficou respirando bem quieto, segurando-o. Quando se levantou tirou as chaves do cinto do subdelegado e se soltou e colocou o revólver do subdelegado na cintura de sua calça e foi para o banheiro.
Deixou a água fria correr sobre seus punhos até que eles parassem de sangrar e rasgou pedaços de uma toalha de mão com os dentes e amarrou-os sobre os punhos e voltou à sala. Sentou-se na mesa e prendeu as ataduras com fita adesiva de um porta-durex, estudando o morto de boca aberta no chão. Quando terminou tirou a carteira do subdelegado do bolso e pegou o dinheiro e o colocou no bolso da camisa e jogou a carteira no chão. Então pegou seu tanque de ar e o aparelho de choque e saiu pela porta e entrou no carro do subdelegado e ligou o motor e deu ré e saiu e pegou a estrada.
Na interestadual avistou um Ford sedã modelo recente ocupado apenas pelo motorista e acendeu os faróis e fez soar brevemente a sirene. O carro parou no acostamento. higurh parou atrás e desligou o motor e colocou o tanque sobre o ombro e saiu. O homem o observava pelo retrovisor enquanto ele se aproximava.
Qual o problema, seu guarda? perguntou.
O senhor pode por favor sair do veículo?
O homem abriu a porta e saiu. O que foi que houve? perguntou.
Por favor se afaste do veículo.
O homem se afastou do veículo. Chigurh pôde ver a dúvida surgir em seus olhos diante daquela pessoa suja de sangue mas foi tarde demais. Pôs a mão sobre a cabeça do homem como alguém que curasse doenças com a fé em Deus.
O assovio e o clique do ar comprimido do êmbolo pareciam uma porta se fechando. O homem escorregou sem fazer ruído para o chão, um buraco redondo na testa de onde o sangue borbulhava e escorria sobre seus olhos carregando consigo seu mundo visível, do qual se desprendia vagorosamente. Chigurh limpou a mão no lenço. Só não queria que você sujasse o carro de sangue, ele disse.
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