de H. RIDER HAGGARD
Capítulo I
Encontro com os meus camaradas
É bem estranho que nesta minha idade, aos cinqüenta e seis anos feitos, esteja eu aqui, de pena na mão, preparando-me a redigir uma história!
Nunca imaginei que tão prodigiosa ocorrência se pudesse dar na minha vida - vida que me parece bem cheia, e vida que me parece bem longa... Sem dúvida, por a ter começado tão cedo! Com efeito, na idade em que os outros rapazes ainda soletram nos bancos da escola, já eu andava agenciando o meu pão por esta velha colônia do Cabo. E por aqui fiquei desde então, metido em negócios, em serviços, em travessias, em guerras, em trabalhos - e nessa dura profissão, que é a minha, a caça ao elefante e ao marfim. Pois, com toda esta diligência, só ultimamente, há oito meses, arredondei o meu saco. É um bom saco. É um saco graúdo, louvado Deus. Creio mesmo que é um tremendo saco! E apesar disso, juro que para o sentir assim, redondo e soante entre as mãos, não me arriscava a passar outra vez os transes deste terrível ano que lá vai. Não! Nem tendo a certeza de chegar ao fim com a pele intacta e com o saco cheio. Mas eu no fundo sou um tímido, detesto violências, e ando farto, refarto de aventuras!
Como dizia, pois, é cousa estranhíssima que assim me lance a escrever um livro. Não está nada no meu feitio ser homem de prosa e de letras - ainda que, como outro qualquer, aprecio as belezas da Santa Bíblia e gozo com a História do Rei Artur e da sua Távola Redonda. No entanto, tenho razões, e razões consideráveis, para tomar a pena com esta mão inábil que há quase cinqüenta anos maneja a carabina. Em primeiro lugar, os meus companheiros, o Barão Cúrtis e o digno capitão da Armada Real, John Good (a quem chamo, por hábito, "o Capitão John") pediram-me para relatar e publicar a nossa jornada ao reino dos cacuanas. Em segundo lugar, estou aqui em Durban, estirado numa cadeira, inutilizado para umas semanas, com os meus achaques na perna. (Desde que aquele infernal leão me traçou a coxa de lado a lado, fiquei sujeito a estas crises, todos os anos, ordinariamente pelos fins do outono. Foi em fins de outono que apanhei a trincadela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário